De bolsista a embaixadora

Brasil Observer - abr 18 2016
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Luiza durante a final do concurso SWB UK Ambassador (Foto: Divulgação)

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Luiza Negri conversa com o Brasil Observer sobre sua trajetória, de bolsista do programa Ciência sem Fronteiras a vencedora do concurso SwB UK Ambassador 2016

 

Por Ana Toledo

O programa Ciência sem Fronteiras (CsF) tem uma nova embaixadora para o Reino Unido: Luiza Negri, de 25 anos, da cidade de Ouro Fino, em Minas Gerais. Formada em Arquitetura pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), ela passou o ano de 2012 estudando na University of East London (UEL), onde começou sua trajetória para se tornar embaixadora do CsF. Mas como assim embaixadora?

Desde a sua criação pelo governo da presidente Dilma Rousseff, em 2012, o CsF tem sido um fator de peso considerável na conexão entre Brasil e Reino Unido – mais de 10 mil estudantes brasileiros já estiveram no país pelo programa. Tão considerável que hoje, quatro anos após o surgimento do CsF, a Embaixada do Reino Unido no Brasil tem fomentado uma rede de ex-alunos, chamada Science without Borders UK Alumni. O objetivo é compartilhar histórias e parcerias de impacto realizadas entre estudantes brasileiros e instituições de ensino britânicas, inclusive elegendo todo ano um SwB UK Ambassador.

Para a edição de 2016 foram mais de 70 inscritos na primeira fase. Para a segunda etapa restaram dez. Apenas quatro foram para a final, realizada em uma noite de gala no Centro Brasileiro Britânico em São Paulo. Na ocasião, cada finalista fez um discurso de quatro minutos para plateia e jurados.

“Eu realmente acredito que, se queremos mudar o nosso país e até mesmo o mundo para melhor, devemos começar com a educação. Claro, é preciso tempo para educar toda uma nova geração e esperar que os resultados sejam visíveis, mas nós não precisamos começar do zero. Podemos começar agora mesmo a trabalhar com a nossa própria geração”, disse a arquiteta Luiza Negri em seu discurso vitorioso.

Em entrevista ao Brasil Observer, Luiza explicou que “o programa [SwB UK Ambassador] funciona mostrando o que o CsF trouxe de conquistas para os estudantes e para o país”. A rede, aliás, nasceu antes do congelamento do CsF pelo governo brasileiro, então não foi criado como forma de pressão para que o programa seja reativado. “Vejo essa possibilidade como uma forma de promover os benefícios e, quem sabe, também ajudar para que o programa volte”, disse a nova embaixadora.

Luiza contou que a experiência com o CsF foi um fator determinante em sua carreira. “Mudou completamente o rumo da minha vida, queria desistir [da arquitetura antes de participar do programa]”, admitiu. O começo não foi fácil, pois além de estar reconsiderando seu curso, Luiza ainda teve que se adaptar com a forma de ensino da instituição escolhida. Em bom inglês, colocando a mão na massa, ou hands on. “Eu não tinha as mesmas habilidades que os meus colegas, pois o que aprendemos é diferente. No Brasil o ensino é mais técnico, já em Londres o ensino é mais focado no lado artístico, privilegiando a forma e a representação gráfica”, comparou.

Quando percebeu sua dificuldade, Luiza recorreu aos seus orientadores. “Procurei dois professores que me deram total suporte e terminei o ano entre os melhores da minha turma. O primeiro aprendizado que tive foi: é possível dominar a técnica e conseguir bons resultados a partir disso”.

Foi o que Luiza fez. Mas a experiência não acabou ali. Quando chegou a hora do estágio obrigatório, ela recebeu todas as vagas abertas pela universidade e, como consequência, outro grande aprendizado: não se limite apenas a sua área de estudo. “Os ingleses têm muita abertura para a troca de experiências. Fazer estágio na área de saúde pública foi uma experiência que, talvez, eu não tivesse no Brasil. Com certeza isso acrescentou para o meu curriculum e para minha vida pessoal”.

Após o estágio obrigatório, Luiza voltou para o Brasil. “Foi triste, eu não queria voltar”. Contudo, com a certeza de que tinha desenvolvido um bom ano, encarou seu retorno com outros olhos. “Voltei para a faculdade e o esquema antigo trouxe um pouco de frustração. Fui tentando buscar soluções. Dentro da faculdade, por exemplo, não fazíamos maquete. Na primeira oportunidade que tive fiz uma e alguns professores não deram valor. Mas outra professora viu e me convidou para fazer oficinas de maquete para a turma de urbanismo, então comecei a trabalhar com ela. Além disso, depois de tanta frustração, passei a fazer parte do colegiado para discutir melhorias para o curso. Até a minha insatisfação foi importante porque trouxe frutos positivos”.

Para Luiza, “fazer intercâmbio hoje já não é um diferencial; a diferença está no que você faz da sua oportunidade de estudar fora”. Esta foi uma reflexão gerada a partir do processo de inscrição para o concurso SwB UK Ambassador 2016. “Um dos objetivos dessa iniciativa é ajudar as pessoas a compreender o que foi o intercâmbio para elas, o que foi a experiência no Reino Unido. Participar do concurso te leva a refletir, olhar para trás e ligar os pontos do que realmente você aprendeu e em como isso influenciou sua vida”.

Hoje Luiza cumpre o papel de promover a rede, participando de eventos como o Career Day, realizado em todo Brasil, além de fazer parte de encontros de integração e gerar conteúdo para o blog do projeto. Outro prêmio do concurso é uma viagem para o Reino Unido, que aconteceu no mês de março e foi a sua primeira missão no cargo. “A viagem é uma premiação, mas serviu também para conhecer mais sobre a Inglaterra, conhecer outras universidades, fazer contato e trocar experiências. Também tivemos alguns programas culturais. Entre eles, fomos assistir a uma peça de Shakespeare no The Globe”.

 

FORMEI, E AGORA?

Após dúvidas, questionamentos, desafios vencidos e, enfim, a formatura, Luiza Negri e criou seu próprio empreendimento – a plataforma “Formei, e agora? –, que tem como missão inspirar jovens a sonhar mais alto e mostrar as diferentes possibilidades que existem dentro de cada profissão.

O site começou publicando histórias de diferentes profissionais que contam como foi sua experiência no início da carreia. Hoje também oferece outro serviço: coaching para recém-formados.

De acordo com Luiza, o intercâmbio foi fundamental para ajudá-la a pensar fora da caixa e perceber que existem outras possibilidades profissionais. “Saber que o diploma não precisa te limitar e a ideia de que você pode aprender tanto quanto ou até mesmo mais fora da sala de aula foram essenciais para minha atuação hoje”.