LIVROS
- Nowhere People, Paulo Scott
Porto Alegre, 1989. Depois de ter vivido a euforia e as promessas de abertura política no Brasil, Paulo sente-se desiludido com a militância política no Partido dos Trabalhadores. Desencantado com a vida, é incapaz de manter relacionamentos estáveis, e o seu trabalho no escritório de advogados oprime-o. O acaso leva-o a cruzar-se com Maína, uma adolescente índia parada à beira da estrada, que imediatamente chama a sua atenção. De jornais e revistas apertados contra o peito, debaixo de uma forte chuva, Maína parece estar à espera de alguma coisa. Quando Paulo decide dar-lhe carona, a vida ganha contornos inesperados, abre-se diante dele uma alternativa.
Este é o ponto de partida de Nowhere People (Habitante Irreal, em Português), romance do escritor brasileiro Paulo Scott que acaba de ser lançado no Reino Unido pela editora And Other Stories, com tradução de Daniel Hahn. Publicado no Brasil em 2011, ganhou o prestigiado Prêmio Machado de Assis de literatura no ano seguinte.
A partir do encontro entre Paulo e Maína, o livro acompanha a emancipação do Brasil diante da ditadura, aborda o problema mal resolvido da herança indígena, mostra a realidade de um imigrante ilegal em Londres e revela que a possibilidade de um futuro promissor pode não ser suficiente para controlar nossas vidas.
Nascido em Porto Alegre em 1966, Paulo Scott já publicou quatro livros, sendo dois de ficção e outros dois de poesia. Em Outubro passado, esteve no Reino Unido para o lançamento de Nowhere People e para participar da segunda edição da FlipSide Festival, versão britânica da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP). Na ocasião, durante uma das mesas de debate, Scott afirmou que seu livro “é o primeiro na literatura brasileira a dar voz aos indígenas”.
- The Mystical Rose: Selected Poems, Adélia Prado
Adélia Prado é uma das mais reconhecidas poetisas do Brasil. Premiada com o Griffin Lifetime Achievement Award de 2014, ela faz neste mês de novembro sua primeira viagem pelo Reino Unido, na ocasião do lançamento de seu primeiro livro em terras britânicas, The Mystical Rose: Selected Poems. Com traduções de Ellen Doré Watson, a coletânea chega às lojas pela editora Bloodaxe Books. Em Londres, Adélia participa de uma sessão de leitura no Kings Place, dia 10, junto ao poeta estadunidense Thomas Lux, que também está lançando sua coleção de poemas, batizada de Selected Poems.
Nascida em 1935 na cidade de Divinópolis, em Minas Gerais, Adélia Prado tinha 40 anos de idade quando passou a escrever poesia a sério. Seu trabalho combina paixão e inteligência, sagacidade e instinto, com poemas que abordam preocupações humanas, principalmente ligadas às mulheres. Entre suas principais características como poetisa estão a espiritualidade e a crença nas qualidades transcendentes de objetos e experiências do cotidiano.
“Descoberta” pelo poeta modernista brasileiro Carlos Drummond de Andrade, que caracterizou seus poemas como “fenomenais”, Adélia Prado publicou sua primeira coleção de 1976, Bagagem. Desde lá, sete coleções subsequentes foram publicadas. Mas, apesar do sucesso quase que imediato e contínuo, ela prefere permanecer longe dos holofotes, viajando para o Rio de Janeiro e São Paulo ocasionalmente para participar de eventos literários e lançamentos.
Nas palavras do poeta estadunidense Robert Hass sobre Adélia Prado, “o Brasil produziu algo que parecia ser impossível: uma poetisa verdadeiramente sensual, e ao mesmo tempo mística e católica”.
EXPOSIÇÕES
- Observations in Brazil, Sir Benjamin Stone
\\ Embaixada do Brasil até 7 de novembro
Últimos dias para apreciar uma rara coleção de 50 fotografias tiradas por Sir Benjamin Stone durante uma expedição ao Brasil no final do século 19. Parte integrante do arquivo da Livraria de Birmingham, esta coleção está sendo exposta pela primeira vez, graças à parceria entre a Embaixada do Brasil em Londres e a Lucid-ly Productions.
Com curadoria de Rodrigo Orrantia e Pete James, as fotografias foram tiradas durante uma expedição da Royal Astronomical Society organizada para observar um eclipse solar completo na Amazônia brasileira em 1893. Stone também registrou sua jornada de navio ao país, fotografando pessoas e lugares que descobriu desde a chegada.
A exibição revela alguns dos brasileiros que na época estavam se esforçando na construção de uma nação independente. Aguçado observador dos indivíduos e dos costumes na Inglaterra, Stone capturou imagens que retratam diferentes perspectivas de uma sociedade brasileira já muito diversa naquele final de século: escravos de origem africana recém-libertados, tribos indígenas da Amazônia e imigrantes europeus de todos os estratos sociais que cruzaram o Oceano Atlântico em busca de uma vida melhor. Em muitas das fotografias, o olhar interrogativo dos fotografados sugere que Stone estava tanto no papel de observador como de observado.
A coleção de Stone convida o expectador a viajar no tempo e testemunhar uma nação em busca da modernização, balanceando contrastes como a vida selvagem e intocada da floresta amazônica e a industrialização da capital Manaus, centro da comercialização da borracha. Muitos daqueles contrastes ainda persistem e nos ajudam a formar uma interpretação mais fiel da conjuntura contemporânea.
- Plot, José Damasceno
\\ Holborn Library até 23 de novembro
Existente primeiramente na visão periférica dos usuários regulares da Livraria de Holborn, a exposição Plot atrai os espectadores para uma jornada mais profunda e até desorientadora ao longo do edifício.
As obras são encontradas em diferentes partes da área pública do prédio, dividindo os mesmos espaços usados para leitura e pesquisa, e levando a uma série de conexões até o último andar, onde havia um auditório que não está mais em uso. Esta jornada não é diferente daquela na qual embarcamos através da literatura clássica, para terras imaginárias e locais de alegoria e sátira, mudando nossa perspectiva, transformando a expressão familiar em algo estranho.
Inspirada pela pesquisa do artista a respeito da arquitetura de Londres, com influências que vão de Jonathan Swift a Hammer Horror, a exposição de José Damasceno transforma a Livraria de Holborn em ponto de partida para uma excursão por meio de um reino onde duas dimensões se tornam três e o tempo se transforma.
José Damasceno nasceu em 1968 no Rio de Janeiro, onde continua vivendo e trabalhando. Plot é sua primeira exibição solo no Reino Unido, e vem em seguida da exposição Integrated Circuit, que aconteceu na Thomas Dane Gallery em 2010. Damasceno representou o Brasil na Bienal de Veneza em 2007 e foi convidado a criar instalações em diversos espaços públicos do Museu Rainha Sofia de Madri, expostas em 2008 sob o título Coordenadas y Apariciones.
Sobre o trabalho de Damasceno, o crítico Gerardo Mosquera afirmou que ele oferece “uma sucessão de aventuras e surpresas”. Sua abordagem versátil abrange escultura, desenho e colagem, criando uma interação rica entre os métodos que formam suas instalações.
SHOWS
- Stefano Bollani & Hamilton de Holanda | Barbican (20/11)
A dupla formada pelo pianista italiano Stefano Bollani e o brasileiro Hamilton de Holanda – considerado o Jimi Hendrix do bandolim – irradia entusiasmo irresistível com um repertório de sambas canções e tango. No Barbican, dia 20 de novembro, ambos se apresentam em conjunto após concerto do trompetista polonês Tomasz Stanko.
Considerado um virtuoso dentro da música brasileira e com reconhecimento internacional, Hamilton de Holanda tem suas origens musicais dentro do choro, mas desde o lançamento de seu primeiro álbum, Destroçando a Macaxeira, de 1977, vem experimentando novas maneiras de tocar, passando pelo jazz, samba, rock, pop, lundu e o próprio choro. Sua principal inovação foi acrescentar duas cordas extras ao bandolim – somando 10 no total –, o que reinventou o instrumento e lhe rendeu o apelido de Jimi Hendrix do bandolim pela imprensa dos Estados Unidos, graças à velocidade de seus solos.
Em 2012, junto com o pianista Stefano Bollani, Hamilton de Holanda gravou o disco O Que Será, gravado ao vivo na Bélgica e lançado pela gravadora ECM. Para o crítico Thom Jurek, o álbum traz um intenso diálogo entre dois músicos que entendem a música como uma aventura: “eles se entregam completamente e trazem uma sonoridade cheia de calor e intimidade”. O álbum, certamente, significou um ponto alto da carreira dos dois músicos, que em Londres terão a oportunidade de mostrar mais uma vez por que formam uma parceria digna da música global que eles representam.
- Metá Metá | Cafe OTO (1/12)
Diante do som improvisado da guitarra e do sax, uma voz feminina grita para Exu, o guardião da religião afro-brasileira Candomblé. Este é o som da banda Afro-punk Metá Metá, formada pela vocalista Juçara Marçal, pelo saxofonista Thiago França e pelo guitarrista Kiko Dinucci. O trio de São Paulo representa o que tem de mais inovador na música brasileira contemporânea e vem a Londres para apresentação única, que terá a participação do DJ Lewis Robinson.
O segundo álbum da banda – que é o primeiro a ser lançado no Reino Unido pela Mais Um Discos –, MetaL MetaL, parte dos antigos cânticos dos orixás para uma forma de samba psicodélico, por meio do jazz e do Afro-punk. Todos os integrantes são adeptos do Candomblé, mas não usam os orixás para pregar suas crenças, e sim como guias para contar uma estória através dos sons e da música.
Em MetaL MetaL, o grupo mistura esses fundamentos espirituais e rítmicos com influências que vão do Afro-beat aos Afro-sambas, criando uma sonoridade de vanguarda, experimental e psicodélica.
Como diz a própria descrição da banda, “o trio trabalha com a diversidade de gêneros musicais brasileiros, utilizando arranjos econômicos que ressaltam elementos melódicos e signos da música de influência africana no mundo, explorando o silêncio e o contraponto, fugindo de ideias convencionais, seja nas características estéticas ou no modo alternativo de compartilhar sua arte”.
MAIS
Céu @ Under the Bridge – 21 de novembro
Tania Maria Trio @ Ronnie Scott’s Jazz Club – 28 e 29 de novembro
Lucas Santtana @ Southbank Centre – 10 de dezembro