Bons ventos: Brasil aproveita cada vez mais seu potencial eólico

Brasil Observer - nov 11 2016
29/09/2015 - Recife - PE - O governador Paulo Camara, durante Inauguração do Complexo Santa Brígida, empreendimento de R$ 864 milhões, mais do que duplicará a participação energética oriunda dos ventos no EstadoFotos: Aluísio Moreira/SEI
Foto: Aluísio Moreira/SEI

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Investimentos dos últimos dez anos colocaram o país entre os principais do mundo em geração de energia eólica

 

Por Wagner de Alcântara Aragão

Turbulência ou maremoto, qualquer um desses fenômenos naturais pode servir de analogia para ilustrar a conjuntura política e econômica do Brasil hoje. Outro fenômeno, porém, está marcando o momento atual, literalmente: os bons ventos que sopram sobre os mais de oito milhões e meio de quilômetros quadrados do território nacional. O país tem, cada vez mais, sabido aproveitar esse potencial.

Esses ventos movem os aerogeradores dos parques eólicos instalados no Brasil. De dez anos para cá (mais intensamente desde 2010), o país passou a investir fortemente na geração e produção de energia a partir da força dos ventos. A capacidade instalada de energia eólica pulou de 27 megawatts em 2005 para 10,6 mil megawatts em 2016. Ou seja, a capacidade instalada ampliou-se 400 vezes no último decênio.

De acordo com o mais recente relatório anual da Global World Energy Council (GWEC), o Brasil foi em 2015 o quarto país em crescimento de energia eólica em todo o planeta, atrás apenas de China, Estados Unidos e Alemanha. O relatório frisa que o Brasil “tem alguns dos melhores ventos do mundo, três vezes superior à necessidade de eletricidade do país”.

A entidade internacional aposta na manutenção da expansão do parque eólico brasileiro. “O sólido crescimento deverá continuar; o Brasil segue como o mercado mais promissor da América Latina”, assinala o relatório. Em capacidade instalada, o Brasil aparecia no ranking da GWEC como o 10º colocado, com 8,7 mil megawatts, ou 2% da capacidade instalada de todo o mundo, pouco abaixo da Itália (nono colocado, com 8,9 mil megawatts) e da França (10,3 mil megawatts).

 

MARCA ULTRAPASSADA

Se o ritmo dos investimentos não for drasticamente afetado pela grave crise política e econômica enfrentada pelo país desde o início de 2015, a tendência é a de que o Brasil suba no ranking mundial de capacidade instalada de energia eólica. Até porque, em agosto último, a capacidade instalada do parque eólico brasileiro ultrapassou os 10 mil megawatts (até o fechamento desta edição, estava em 10,6 mil, segundo dados oficiais). Ou seja, do final de 2015 para o segundo semestre de 2016, o crescimento dessa capacidade foi de 21%.

O fato, aliás, foi bastante comemorado por especialistas e por representantes do setor. A Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), que reúne as empresas que integram a cadeia produtiva de energia eólica no país, considera “emblemática” a marca de 10 mil megawatts de capacidade instalada atingida pelo Brasil. “Para ter uma ideia, a usina de Belo Monte tem capacidade de pouco mais de 11 mil megawatts. No ano passado, a energia eólica abasteceu mensalmente uma população equivalente a todo o sul do país”, compara, em nota, a associação.

A entidade de classe salienta ainda o índice de nacionalização da cadeia produtiva do setor e os investimentos da ordem de R$ 48 bilhões realizados nos últimos seis anos. “É importante mencionar que o uso de energia eólica tem crescido consistentemente porque nos últimos anos desenvolveu-se no país uma cadeia de energia eólica 80% nacionalizada, que levou a energia eólica a ser a segunda fonte mais competitiva do país”, sublinha, em entrevista ao Brasil Observer, a presidenta executiva da Abeeólica, Elbia Gannoum.

Os investimentos apenas nos últimos seis anos representam, por sinal, 80% dos R$ 60 bilhões investidos desde 1998, o que mostra como é recente o caminho adotado pelo Brasil de ampliar o aproveitamento dessa fonte renovável (e sustentável) que é a energia eólica. Só no ano passado, foram inauguradas 100 dos 407 parques eólicos de que o Brasil dispõe hoje, conforme dados do Ministério das Minas e Energia. “Em 2015, a energia eólica foi a fonte que mais cresceu na matriz elétrica brasileira, responsável pela participação de 39,3% na expansão, seguida pela energia hidrelétrica (35,1%) e energia termelétrica (25,6%)”, acrescenta a Abeeólica.

 

HORIZONTE

Projeções anunciadas em janeiro pela Abeeólica – ainda durante o governo de Dilma Rousseff – indicavam uma perspectiva de o Brasil alcançar nos próximos anos 24 mil megawatts de capacidade instalada de energia a partir dos ventos. Até o final deste ano, a estimativa é chegar aos 11 mil megawatts. A perspectiva de um horizonte promissor segue mantida, conforme denotam as palavras da presidenta de Elbia Gannoum (ver entrevista à parte), em que pese a crise política e econômica que tem praticamente paralisado o país desde o início de 2015.

Entre parques em construção e aqueles com construção já contratada, são, atualmente, 333 unidades em andamento. A maior parte delas (159) na Bahia. Com exceção do Rio Grande do Sul (17 parques), todos os outros Estados com unidades em construção ou contratadas também são da Região Nordeste: Rio Grande do Norte (59), Piauí (37), Ceará (41), Pernambuco (dez), Maranhão (oito) e Paraíba (três).

 

‘QUESTÕES POLÍTICAS NÃO VÃO ATRAPALHAR O SETOR’

Data: 16/01/2013 Editoria: Empresas Reporter: Rodrigo Polito Local: Sao Paulo, SP. pauta: Perspectivas da energia e—lica para 2013 Setor: Energia Tags: torres, vento, energia, escritorio, ceu. Personagem: Elbia Melo, presidente executiva da Abeeolica, fotografada no escritorio da empresa em Sao Paulo. Foto: Silvia Costanti / Valor

Em entrevista ao Brasil Observer, a presidenta executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum, assegura que projeções do setor estão mantidas.

 

BRASIL OBSERVER | Na avaliação da Abeeólica, em que intensidade se deu a expansão do parque eólico brasileiro da década passada para cá?

ELBIA GANNOUM | O setor elétrico brasileiro passou por grandes mudanças após o racionamento de 2001, implementando um novo modelo entre 2003 e 2004. Uma das principais mudanças foi a criação dos leilões de geração de energia. Principalmente a partir de 2005, os leilões começaram a contratar novos projetos de geração. Nessa época já estava em andamento o Programa de Incentivo de Fontes Alternativas, o Proinfa, que contratou cerca de 1,3 GW [ou 1,3 mil megawatts] em parques eólicos porque os projetos ainda não eram competitivos para participar dos leilões. O Proinfa foi muito importante porque proporcionou a primeira entrada de grandes projetos eólicos no Brasil, que posteriormente foram contemplados com leilões de energia, a partir de 2009. A energia eólica começou no Brasil em um momento adequado, em que foi possível comercializar a energia com preços competitivos.

 

BRASIL OBSERVER | A que fatores se deve tal expansão?

ELBIA GANNOUM | A energia eólica tem se desenvolvido com grande intensidade e conta com algumas desonerações tributárias que outras fontes de geração também possuem. As principais desonerações são a isenção de PIS/Pasep e da Cofins, por meio do Regime de Incentivo a Projetos de Infraestrutura, o Reidi, e ICMS. Isso significa que houve um incentivo para a criação da cadeia produtiva, que foi uma política industrial de muito sucesso. Além de tudo isso, há um ponto crucial: o Brasil tem um dos melhores ventos do mundo, e isso é, sem dúvida, um dos grandes motivos do crescimento da energia eólica nos últimos anos.

 

BRASIL OBSERVER | O conturbado cenário político e econômico pode representar um risco aos investimentos em energia eólica no país?

ELBIA GANNOUM | Não, esse não é um risco porque há uma necessidade real de contratação devido à inevitável retomada do crescimento que virá em breve. A fonte eólica vem se desenvolvendo no Brasil com sucesso e não é fruto de um programa deste ou daquele partido. É um projeto de país e a fonte já alcançou uma solidez importante. Vários outros dados dão uma dimensão da importância que tem hoje a indústria eólica. Só no ano passado, foram gerados 41 mil empregos [pelo setor]. Para este ano, a estimativa é fechar com número parecido. Cada megawatt instalado gera 15 postos de trabalho em toda a cadeia produtiva. Não há qualquer risco por questões políticas.

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