O Brasil esteve em evidência na última semana de janeiro no King’s College, em Londres. Organizada pelo Brazil Institute daquela universidade, a Brazil Week celebrou o país com uma série de eventos culturais e debates. Foi mais uma mostra da relevância dos estudos brasileiros no ambiente acadêmico britânico, além de uma oportunidade de encontrar pessoas de variados backgrounds interessadas pelo Brasil.
O Brasil Observer esteve presente em dois eventos da semana; na recepção de abertura, na segunda-feira dia 25 de Janeiro, e na sessão dedicada à discussão do direito à cidade no Rio de Janeiro, na quarta 27.
No primeiro, o destaque ficou por conta do sociólogo José de Souza Martins, professor titular da Universidade de São Paulo. Terceiro brasileiro – depois de Celso Furtado e Fernando Henrique Cardoso – a ocupar, em 1993-1994, a prestigiada Cátedra Simón Bolivar da Universidade de Cambridge, Martins falou brevemente sobre a situação política do Brasil.
A crise atual, segundo o professor, não é uma crise do PT, mas do sistema político do Brasil, “cada vez menos representativo do provo brasileiro”. Para ele, o atual sistema não permite nenhum traço de inovação democrática, pois é dominado pelo poder econômico, e a polarização entre PT e PSDB não explica a crise política corrente.
O sociólogo, aliás, lança neste mês de fevereiro mais um livro, Do PT das Lutas Sociais ao PT do Poder (editora Contexto), em que questiona: o PT que lutava nas ruas e nas portas de fábrica, pregando ética e justiça social, é o mesmo partido que está no poder há mais de uma década?
No segundo evento no qual esteve o Brasil Observer, intitulado “Equality & the City: Discrimination, Cultural Identity and Street Art in Rio de Janeiro”, foi transmitido o documentário Memórias do Cais do Valongo.
Dirigido por Antônio Carlos Muricy e Carlos Alexandre Teixeira, este último presente no evento, o filme retrata a história do Cais do Valongo na área portuária do Rio, conhecido no século 19 como “Pequena África”, expressão muito usada pelo pintor e compositor Heitor dos Prazeres.
Além de Teixeira, o debate pós-filme contou com as presenças do professor de Direito Transnacional no King’s College Dr. Octavio Ferraz, o rapper e ativista MC Leonardo e o músico e escritor Delcio Teobaldo. Todos falaram sobre a importância de o Brasil encarar o seu passado, principalmente a escravidão, para entender as desigualdades e injustiças do presente; a necessidade de fomentar a cultura popular no Brasil; e as contradições dos projetos de revitalização do Rio por conta dos Jogos Olímpicos, que têm acentuado um processo já existente de gentrificação.
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Publicado originalmente na edição 35 do Brasil Observer