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O camarote é a rua

brasilobserver - Feb 22 2015
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Desculpe-me a indelicadeza, mas o papo só pode ser Carnaval

Por Ricardo Somera

O verão brasileiro, para variar, começou quente nas temperaturas e na questão cultural. O Foo Fighters levou cariocas, paulistas, gaúchos e mineiros ao delírio; Gal Costa estreou seu novo show, “Espelho d’Água” (incrível!), no SESC Pinheiros; e ficamos tristes por, mais uma vez, o Brasil não ter sido indicado ao Oscar (aqui, porém, tenho que dar o braço a torcer e reconhecer: o filme argentino “Relatos Selvagens”, de Damián Szifron, é infinitamente melhor que “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”, de Daniel Ribeiro).

Mas não tem jeito. Mesmo com tudo isso em destaque na agenda cultural, desde o dia 2 de janeiro não se fala em outra coisa que não seja o Carnaval. Eu sei que aí em Londres rola uma deprê nessa época (se você gosta da coisa, é claro), mas o que posso fazer?

Muita coisa mudou desde a época em que a Confraria do Pasmado (SP), a Orquestra Voadora (RJ) e a Juventude Bronzeada (BH) juntavam 100 amigos cada uma para dançar, pular e beber uma cerveja com boa música nas ruas e praças das grandes capitais durante o verão. Hoje os blocos do Rio de Janeiro, como o Sargento Pimenta, levam 80 mil pessoas ao Aterro do Flamengo durante o Carnaval; o segundo ano do bloco da festa Pilantragi arrastou uma multidão durante 9 horas pelo bairro do Sumaré, em São Paulo, no começo do mês de fevereiro; e por falta de estrutura – e educação de boa parte dos participantes que jogam lixo no chão – alguns blocos de Belo Horizonte tiveram que cancelar seus ensaios na rua, pois estão juntando cinco vezes mais pessoas do que no ano passado.

Tradicionalmente, Rio, Salvador e Recife são consideradas as melhores cidades para curtir os dias da carne, mas esse ano São Paulo e Belo Horizonte são os grandes destaques. O Bloco Tarado Ni Você (com músicas de Caetano Veloso), que levou mais de 6 mil pessoas no último ensaio no Parque Augusta, promete fazer a melhor festa de rua do Carnaval paulista. O Agora Vai, da Barra Funda, está preocupado, pois desfila sobre o Minhocão, uma estrutura de 3,5 km – pode não ter espaço pra todo mundo na terça-feira de Carnaval.

Belo Horizonte – é pra lá que eu vou! –, com seus 2,5 milhões de habitantes, espera receber mais de 1,5 milhão de foliões nos quatro dias de festa este ano. Boa parte deles vão ficar na capital mineira devido ao cancelamento de 15 carnavais no interior do Estado, por conta da falta de água. “Baianas Ozadas”, “Então, Brilha”, “Ordinááários” e os mais de 200 blocos que me aguardem. Como diz Chico Buarque: “Tô me guardando pra quando o Carnaval chegar”.