Há 15 anos foi realizada, em Porto Alegre, a primeira edição do Fórum Social Mundial.
Celebrando as bodas, a capital gaúcha recebeu em janeiro último (dias 19 a 23) um evento preparatório para o Fórum Social Mundial de 2016, marcado para agosto (dias 9 a 14), em Montreal, no Canadá.
Foi o Fórum Social Mundial Temático. Na prática, apenas uma versão ligeiramente menor (em atividades e número de participantes) e menos internacional (a maior parte dos envolvidos era de brasileiros e latino-americanos) que o fórum principal.
O Macuco Blog/Brasil Observer acompanhou alguns dos debates do evento recém-ocorrido em Porto Alegre.
A urgência de a esquerda, sobretudo na América Latina, redefinir ações e estratégias; e a necessidade emergencial de união das forças populares e progressistas no Brasil para impedir o golpe do impeachment da presidenta Dilma Rousseff foram ressaltadas em praticamente todas as falas.
Não à toa.
Talvez em 15 anos de Fórum Social Mundial, esta foi a primeira vez em que a esquerda – não só brasileira e latino-americana, mas a do planeta de modo geral – vivencia um momento tão desfavorável.
Quando o Fórum Social Mundial surgiu em 2001, em Porto Alegre, em contraponto ao Fórum Econômico Mundial de Davos (Suíça), o neoliberalismo (particularmente na América Latina) estava em extremo desgaste.
No Brasil, eram os escândalos da privataria, o apagão, a estagnação econômica, o desemprego; na Argentina, um país entregue ao capital estrangeiro estava mergulhado no fundo do poço.
Por outro lado, emergia, na Venezuela, o socialismo bolivariano implantado por Hugo Chávez.
Aos poucos, as forças progressistas foram sendo eleitas no continente, a crise global de 2008 expôs de vez a tragédia da liberalização econômica e a esquerda saiu do posto de pleiteante para protagonista na definição dos rumos das nações.
A reação do conservadorismo, do impearlismo mundial e das elites nacionais, é claro, não tardou e veio com tudo.
E hoje, acuada por essa reação, amplamente difundida e respaldada pela grande mídia, a esquerda se reuniu em Porto Alegre cheia de dilemas.
A maior chacoalhada recebida pelos participantes desse Fórum Social Mundial Temático veio do ex-governador do Rio Grande do Sul (1999-2003), Olívio Dutra.
Olívia Dutra é do PT, da ala mais progressista e menos pragmática do partido, e uma das figuras mais admiradas pelos diversos segmentos da esquerda brasileira.
Na mesa da qual foi debatedor, foi ovacionado com entusiasmo sem igual, pela plateia.
Disse Olívio Dutra:
“O projeto da esquerda não pode se reduzir a ganhar eleição. A esquerda precisa de um projeto estratégico, precisa de ter contornos mais nítidos, para não entrar no carreirismo político, nas práticas políticas tradicionais (…) Há necessidade se ter visão mais orgânica de médio, longo prazo; de objetivos, e de formas de ir alcançando esses objetivos.”
É hora, alertou Olívia Dutra, de os segmentos que compõem o amplo espectro da esquerda deixarem um pouco diferenças pra escanteio.
“Sejamos aprendizes. Nos desfaçamos de visões bloqueadas, já formadas. Temos que repensar permanentemente. [A esquerda] precisa se questionar.”
Para a liderança, é, ainda, momento de se rever concessões à direita.
“Não devemos arriar algumas bandeiras para ir mais adiante. Ir adiante, mas em qual condição? Às vezes se avança muito mais perdendo eleições do que ganhando.”
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Por @waasantista, postado de Curitiba | Fotos: @waasantista