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Itapemirim, uma gigante sexagenária em extinção nas estradas e rodoviárias do Brasil

Wagner de Alcântara Aragão - jul 09 2015
Itapemirim_Linhas_Viacao_Kaicara

Seus ônibus em tons de amarelo e marrom há décadas fazem parte da paisagem das rodovias nas cinco regiões do país.

Difícil encontrar um viajante que não tenha embarcado em um de seus coletivos.

Aos poucos, porém, ela vai saindo de cena.

Falamos da Viação Itapemirim, até então a maior empresa de transporte terrestre interestadual de passageiros do Brasil.

Em junho, a Itapemirim se desfez de 68 de suas 118 linhas que cortam o território nacional de norte a sul.

Entre elas, ligações tradicionais, o DNA da empresa, como as linhas São Paulo-Curitiba, Rio-Curitiba, Rio-São Paulo, Rio-Porto Alegre, Rio-Florianópolis, Salvador-Recife, Juiz de Fora-Brasília… enfim, a lista é extensa.

 

Adesivo "a serviço da Viação Kaissara" sinaliza as mudanças (Foto: @waasantista)

Adesivo “a serviço da Viação Kaissara” sinaliza as mudanças (Foto: @waasantista)

 

As linhas e parte considerável da frota (271 veículos, ou 40%) foram transferidas para a Viação Kaissara, recém-constituída, e instalada também em Cachoeiro Itapemirim (ES).

Comenta-se que a Kaissara, no fundo, seja ligada à Itapemirim – uma manobra para driblar os efeitos da crise enfrentada pela empresa nos últimos anos. À imprensa, a diretoria da nova viação nega, e nega também que faça parte do Grupo Júlio Simões, gigante do transporte rodoviário de cargas.

Mas isso é assunto para outra conversa.

A prosa agora é sobre o desaparecimento do nome, da marca que faz parte da história do Brasil.

Fundada em 1953 por Camilo Cola, a Itapemirim cresceu à medida em que o país passou a expandir sua malha rodoviária.

Transportou uma multidão que migrou do Nordeste para Rio, São Paulo; continuou a ser o meio de transporte de muita gente que, já radicada no Sudeste, voltava aos estados de origem para visitar parentes, rever amigos, matar a saudade da terra.

A Itapemirim também contribuiu negativamente para a história da nação.

A Comissão Nacional da Verdade apurou que seu fundador, Camilo Cola, está entre empresários e empresas que apoiaram financeiramente a ditadura civil-militar de 1964 a 1985.

  • Memórial Diretos Humanos: Comissão Nacional da Verdade diz que Camilo Cola financiou a ditadura

Entre os anos 70 e 80, a Itapemirim foi mais que uma viação: tinha fábrica de carroceria de ônibus (Tecnobus), rede de pontos de parada (Flecha), concessionárias de veículos, atividades de mineração e agropecuária, entre outras. Chegou a constituir uma companhia aérea para transporte de cargas. Viações como a Penha e Kaiowa fizeram parte do grupo também.

Da década passada para cá, o império começou a perder força, até se desmoronar.

Negócios foram descontinuados, outros vendidos. Entre os motivos, brigas familiares pelo patrimônio e comando do grupo.

  • Jornal Extra: “Família rachada por herança milionária no Grupo Itapemirim”
  • JusBrasil: “Filha oferece notícia-crime contra Camilo Cola”
  • Folha do ES: “Camilo Cola e o declínio do império”

Talvez não seja fim de linha definitivo.

Mas, antes onipresente, a Itapemirim será cada vez mais raridade nas estradas e rodoviárias deste Brasilzão.

 

Por Wagner de Alcântara Aragão, jornalista e professor

| Twitter: @waasantista

Postado de Curitiba