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Em Curitiba, muita gente no ato pró-impeachment. E muita falta de (in)formação

Wagner de Alcântara Aragão - mar 15 2015
Passeata_Impeachment_Curitiba_Carro_de_Som

Não dá para dizer que só “o Batel” foi às ruas do Centro de Curitiba para a passeata pedindo o impeachment da presidenta da Dilma Rousseff, na tarde deste domingo, dia 15.

(Pra quem não é da cidade: Batel é um bairro de prediões, casarões, shopões de luxo. Quando se quer dizer que algo é da elite, se diz que é “Batel”)

Não tinha só gente do Batel não. Nem só de outras zonas mais abastadas, como Jardim Social, Los Angeles, Champagnat etc etc etc

Desde o início da tarde, chegavam dos bairros muita gente vinda de ônibus – biarticulados e ligeirinhos passavam lotados de vestidos de camisa verdes ou amarelas, quase todas da seleção brasileira.

Vinham numa evidente euforia e comoção fomentada pela cobertura da televisão, em especial da Globo.

Desde manhã cedo, a cada 15, 20 minutos a programação era interrompida para apresentar flahses ao vivo das manifestações em todo o Brasil.

Tava na cara: não era uma mera cobertura jornalística. A cada 15, 20 minutos não acontecia nada de novo que justificassem os flashes exaustivos, nos quais os repórteres eram forçados a repetir a mesma ladainha.

Era uma clara estratégia de criar um clima de comoção, de euforia, de estimular as pessoas a saírem de casa e irem para as ruas de suas respectivas cidades para engrossar o coro da elite que articula o golpe chamado de impeachment.

Mais sobre isso, escreve o Rodrigo Vianna aqui.

Em Curitiba, a estratégia triunfou.

Fala-se em 80 mil pessoas.

Mas a maioria dos presentes era sim da elite mais abastada. Notava-se pelas roupas de marca que vestiam (raros os casos de gente com camisa pirata da seleção; eram quase todas oficiais da Nike. Cada uma, você sabe, custa um terço do salário mínimo nacional).

 

passeata_impeachment_curitiba_ofensa_a_Lula

 

Mais que isso: entre aqueles que portavam adesvios, cartazes e faixas com aberrações como a da foto acima, e bradavam termos chulos, a totalildade era de gente bem vestida também, bem maquiada, cabelo tratado, adereços de grife.

Se isso não é ser mais abastado, é ser a classe trabalhadora mais pobre, então a situação não está tão ruim sim. Afinal, todo esse kit custa caro pra caramba, você sabe.

Faixas como essa que reproduzem a mão sem o dedo do ex-metalúrgico e presidente Lula; cartazes mandando a presidente Dilma ir para “a Cuba que pariu”; outros rechaçando um suposto bolivarianismo que tomou conta do país; e até pedido de intervenção militar, todos esses dizeres denotavam uma profunda falta de informação dessa galera. De formação, até.

 

Passeata_Impeachment_Curitiba_Pedido_de_Intervencao

 

De fato, a educação brasileira nas últimas décadas falhou, falha. E sobretudo a educação das escolas particulares, afinal essa gente que estava na marcha e demonstra não saber bem o que se passa em Cuba, desconhece o terror do golpe militar de 1964 e respectiva ditadura; não tem a mínima ideia do que é bolivarianismo, essa é uma turma que estudou nos ditos mais conceituados estabelecimentos de ensino da capital.

Os brasileiros temos motivos para insatisfação e inquietude.

É a política econômica do Joaquim Levy que arrocha a renda do trabalhador mas preserva o sistema financeiro e as grandes fortunas; é uma ministra da Agricultura submentida aos interesses do agrobusiness e adversária da agricultura familiar; uma mídia que cerceia a liberdade de expressão dos movimentos populares e escancara os microfones e câmeras para os interesses da elite e do poder econômico, entre outras razões.

Essa pauta, todavia, não faz parte de marchas como a deste domingo.

Nenhum desses de Nike do boné ao tênis, pedindo a saída de Dilma, foi às ruas impedir a entrega do patrimônio nacional durante as privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso. Nem pede apuração da corrupção da privataria.

Muito menos estão os líderes da marcha preocupados com os camponeses. Não exigem taxação das grandes fortunas – ao contrário, tendem a repetir o discurso de que “afugenta” investimentos.

A cama do golpe está armada. Falta arrumar os lençóis, colocar fronha nos travesseiros.

Dá para colocar freios nisso, se o governo Dilma por para escanteio o ranço neoliberal e implementar a pauta aprovada nas últimas eleições. A governabilidade está à esquerda. É esse movimento que vai levar o povo às ruas para apoiar a presidenta e evitar o golpe.

Do contrário, vem golpe. Se vai ser com impeachment, deposição por intervenção militar, exigência de renúncia ou um pacto que tolere o atual governo desde que (mais) concessões sejam feitas, veremos no desenrolar dos acontecimentos.

 

Texto e fotos por Wagner de Alcântara Aragão, jornalista e professor | Twitter: @waasantista 

| Postado de Curitiba

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