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Dilma, a governabilidade está à esquerda

Wagner de Alcântara Aragão - fev 07 2015
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“Nós temos forças para, juntos, enfrentarmos a reação dos que buscam voltar atrás.”

A afirmação foi feita há pouco pela presidenta Dilma Rousseff, em Belo Horizonte, no evento de comemoração de 35 anos do Partido dos Trabalhadores (PT).

É, evidentemente, um alerta diante de manobras golpistas em curso.

Em curso, lento, camuflado, mas em curso. Tocado por grupos políticos e econômicos reacionários, turbinado pelo bombardeio incessante da velha mídia.

Sim, presidenta, há forças para enfrentar as investidas reacionárias.

Só que essa força, que se revigorara nas últimas eleições, arrefeceu-se.

Arrefeceu-se, em boa parte, por consequência de suas decisões, presidenta.

Pela escolha de alguns ministros impensáveis para um governo como o seu.

Pelas medidas de arrocho na área econômica tomadas há pouco.

Presidenta, as forças estão dispostas a lhe apoiar caso se materialize uma tentativa de golpe travestida de impeachment.

Porém, para isso, precisam de que a senhora reconduza seu governo para a esquerda.

Claro, sabemos das limitações – do Congresso mais conservador dos últimos 50 anos, do oligopólio empresarial da mídia que impede o debate em igualdade de condições etc etc etc.

Todavia não pode ser justificativa para essa guinada radical à direita.

Já está provado que não é com os Levy e Kassab da praça que a senhora vai conseguir a tal “governabilidade”.

(Vide eleição de Eduardo Cunha para a Câmara)

Nem adulando o “mercado”.

Esses e sua turma são os primeiros a pular do barco ao surgimento das primeiras nuvens carregadas.

Tá certo, não é estatizando tudo de vez.

Mas é sim sinalizando alguns avanços – à esquerda, sublinhe-se.

É como disse o senador Roberto Requião (PMDB-PR) pelo seu twitter na tarde desta sexta, dia 6, antes mesmo do discurso da presidenta na festa dos 35 anos do PT.

Assinalou Requião, sintetizando o recado que se quer passar aqui: “Dilma, quer nos ver na rua apoiando o governo? Simples, retome o discurso da campanha!”

Lá atrás, no início do governo Lula, ou mesmo no começo do primeiro mandato de Dilma, a saída até era essa de composição pluripartidária e concessões em demasia ao onipresente mercado.

Agora, até certo ponto é inevitável, entendemos; entretanto, não é o bastante.

A conjuntura, o contexto, os tempos são outros.

Ou vai para esquerda para dar esperança para as forças que almejam por mudanças progressistas, ou vai ser difícil reaver o apoio das ruas.

A maioria dos brasileiros – 54 milhões de eleitores – votou em Dilma, não faz muito tempo (nem quatro meses).

Não há, lógico, arrependimento – todos tínhamos ciência do que estava em jogo, e das dificuldades no caminho. Por outro lado, tolerância, compreensão e paciência uma hora se esgotam – mesmo diante dos que pretendemos ter ao nosso lado.

LEIA TAMBÉM

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Por Wagner de Alcântara Aragão, jornalista e professor | Twitter: @waasantista

| Foto: via  @blogplanalto

| Postado de Curitiba