No ritmo da rua

brasilobserver - jul 20 2015
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Companhia de dança de Uberlândia apresenta em Londres o espetáculo Baila Brazil, de 5 a 15 de agosto

 

Por Gabriela Lobianco 

A companhia de dança uberlandense Balé de Rua está em turnê internacional com o espetáculo Baila Brazil, uma mistura que envolve a batida musical dos tambores, a cadência afrodescendente e o “street dance”, direto das favelas da cidade mineira para o mundo.

A atração foi bastante elogiada em sua estreia na Austrália, com boa aceitação tanto da crítica quanto do público, com apresentações lotadas na Sydney Opera House. “É uma peça com uma visão da nossa terra, mas sem estereótipos”, conta o diretor da companhia, Fernando Narduchi, em entrevista exclusiva ao Brasil Observer. Para ele, a sensualidade do nosso povo sempre existirá. No entanto, continua Narduchi, “antes de tudo os bailarinos encenam pela arte, com foco nas nossas raízes e cultura, com beleza e exuberância”.

O grupo se apresenta em Londres de 5 a 15 de agosto, no palco principal do Southbank Centre, o Royal Festival Hall, como parte do Festival of Love. O convite surgiu justamente após as performances na Austrália, e, apesar de não ser a primeira vez que os artistas vêm à capital britânica, sempre há expectativas sobre o novo trabalho a ser mostrado. “Esperamos que a plateia goste”, confirma Narduchi.

Com coreografia exclusiva de Marco Antonio Garcia representando clássicos da MPB, do samba, do hip hop, do break e da dança contemporânea, a trupe dessa montagem conta com 14 profissionais entre dançarinos (sambistas, b-boys e capoeiristas) e músicos (percussionistas e um conjunto com teclado, contrabaixo e cavaquinho), além da cantora Alexia Falcão. “A diferença dessa vez é que contamos com uma banda com canções ao vivo, com muito mais que compassos e batuques”, esclarece o diretor.

A jornada de oito horas de ensaios diários é intensa e exige muita dedicação – o resultado tem cerca de 1h20 de duração. O principal, porém, é a interação com a audiência, convidada para dançar.

Narduchi afirma que não fica intimidado com a interpretação que os europeus possam fazer da obra. “A interpretação é subjetiva, mas somos artistas”. Segundo ele, na apresentação de outro espetáculo, em Lyon, bailarinos homens em determinado momento entraram em cena com vestidos, se despindo na medida em que a atuação continuava. “Fiquei espantado que não interpretaram como algo erótico e sim como parte integrante e sensível do espetáculo”, diz.

 

TRAJETÓRIA

Com mais de 20 anos de experiência, os artistas combinam em suas encenações a linguagem da dança de rua com o balé moderno. “A Cia. Balé de Rua nasceu em 1992 com uma proposta de criar arte como ato de coragem e de forma independente”, explica Narduchi.

Em 2007, o diretor e fundador da companhia criou o Centro Cultural Balé de Rua, referência de ensino e inclusão de crianças e adolescentes, com mais de 200 alunos de diversos bairros de Uberlândia treinados em aulas gratuitas. Por falta de recursos, o centro fechou em 2014, mas a Cia. Balé de Rua continua firme.

Desse projeto, outros surgiram, como a Comunidade Ativa, que surgiu a partir do trabalho Novos Talentos, desenvolvido pela Cia. Balé de Rua. Dessa forma, a periferia de Uberlândia invade os centros urbanos e proporciona um novo rumo na vida de jovens artistas.

O repertório é bastante variado, e assim a companhia tem no currículo 13 países e 45 cidades brasileiras visitadas. Fernando Narduchi, aliás, relembra que esteve no Fringe, um dos eventos de artes cênicas mais importantes do mundo, em Edimburgo. “Fomos em 2008 e passamos um mês por lá. Linda cidade e belo festival”.

Por fim, o diretor indaga a repórter acima assinada como está o clima em Londres: “Está muito frio?”. A decepção foi grande quando ele descobriu que no dia da nossa entrevista, via Skype, eu estava de de passagem pelo Brasil. “Você que mora por lá, já está acostumada, mas acho melhor eu levar umas blusas de frio, à noite com certeza esfria, pelo que eu me lembre,” ri descontraído. Pode até ser. Mesmo que para os brasileiros o verão londrino seja relativamente ameno, com certeza a temperatura estará fervendo com o Baila Brazil.

 

BAILA BRAZIL

Quando: 5 a 15 de agosto

Onde: Royal Festival Hall

Ingressos: £38 £28 £15

Info: www.southbankcentre.co.uk

BRASIL OBSERVER – EDIÇÃO 29