Amigos novamente?

brasilobserver - jul 20 2015
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A presidente Dilma Rousseff durante declaração à imprensa com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)

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A visita da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, aos Estados Unidos foi saudada pelos dois países e por muitos analistas internacionais como o marco de um novo capítulo nas relações bilaterais entre as duas maiores democracias do hemisfério ocidental – estremecidas desde 2013, quando Dilma, ao descobrir ser alvo de espionagem do governo americano, decidiu cancelar uma viagem agendada ao país.

“Nosso foco está no futuro”, disse o presidente Barack Obama, em entrevista ao lado de Dilma, após reunião na Casa Branca. “Acredito que esta visita marca mais um passo em um novo e mais ambicioso capítulo na relação entre nossos países”. A presidente brasileira foi na mesma direção. “Relançamos a relação com os Estados Unidos num patamar de maiores possibilidades futuras e presentes”, afirmou.

Na mesma semana do encontro, porém, informações secretas obtidas pelo WikiLeaks revelaram detalhes sobre a espionagem da NSA, sigla em inglês da Agência Nacional de Segurança. Teriam sido interceptadas ligações de 29 números de telefone do governo brasileiro, incluindo a Presidência da República, o Ministério da Fazenda, o Banco Central e o Ministério das Relações Exteriores.

Dessa vez, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República divulgou nota afirmando que a presidente Dilma Rousseff confia no presidente americano, Barack Obama, e em seu compromisso de que não haverá mais espionagem contra o Brasil e empresas brasileiras. O ministro da Secom, Edinho Silva, já havia dito que o governo considera o episódio superado e que as escutas telefônicas reveladas são de 2011. “A presidenta acabou de chegar de uma viagem produtiva aos Estados Unidos e vários acordos foram fechados. O foco agora é a manutenção das boas relações com os Estados Unidos e os futuros investimentos”, argumentou o ministro.

Em meio a uma crise política e econômica, um escândalo de corrupção envolvendo um número cada vez maior de aliados do governo e índices de aprovação abaixo dos dois dígitos, Dilma Rousseff tem no front externo a esperança de gerar boas notícias.

Por isso, a viagem foi dominada por questões comerciais. Em Nova York, Dilma buscou seduzir investidores com concessões na área de infraestrutura no valor de US$ 64 bilhões e, no Vale do Silício, procurou conselhos sobre inovação com empresários do setor de tecnologia. Já os americanos prometeram suspender a proibição às importações de carne brasileira, encerrando uma negociação que já dura quase 15 anos. E é possível também que, em 2016, os dois países assinem um acordo para a redução de barreiras não tarifárias e harmonização de procedimentos aduaneiros, o que deve acabar facilitando a entrada de produtos brasileiros nos Estados Unidos, que ainda são o país que mais compra produtos industrializados do Brasil.

Com US$ 9,7 bilhões de janeiro a maio de 2015, os Estados Unidos de Barack Obama são atualmente o segundo maior comprador de produtos brasileiros (contanto também não industrializados), atrás apenas da China, que importou do Brasil US$ 13,7 bilhões este ano. As exportações brasileiras aos norte-americanos, no entanto, caíram aproximadamente 8% em relação ao mesmo período de 2014, quando chegaram a US$ 10,5 bilhões. Nos primeiros cinco meses deste ano a balança comercial entre os dois países foi desfavorável ao Brasil em US$ 2 bilhões. No ano passado, as trocas de bens e serviços entre os dois países chegaram a US$ 110 bilhões e a intenção de ambos é que esse montante seja duplicado em dez anos.

Brasil e Estados Unidos também se comprometeram a ampliar a participação de fontes renováveis em suas matrizes energéticas. O objetivo é que este índice, sem contar a geração de energia hidráulica, chegue a mais de 20% até 2030. De acordo com os dados mais recentes, de 2012, atualmente essa participação é de 12,9% nos Estados Unidos e de 7,8%, no Brasil, sem incluir hidrelétricas.

Com ceticismo de ambos os lados do espectro ideológico – tanto dos que esperavam uma resposta mais efetiva de Barack Obama em relação às denúncias de espionagem quanto daqueles que consideram as ações de Dilma Rousseff ainda bastante tímidas – o sucesso da viagem vai depender do que acontecer daqui para frente.

BRASIL OBSERVER – EDIÇÃO 29