Terceiro turno das lutas

brasilobserver - dez 19 2014
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Foto: Tanda Melo

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Em 2015, é necessária a construção de um espaço amplo e democrático para coordenar e unificar as demandas sociais

Por Miguel Leme, da Central Sindical e Popular – CSP Conlutas

O ano de 2014 será lembrado, certamente, pelas diversas lutas realizadas pela juventude e pelos trabalhadores diante do esgotamento econômico e político do Lulismo. Expressões claras desse esgotamento: a estagnação da economia brasileira e a vitória apertada de Dilma Rousseff no segundo turno da eleição presidencial.

O primeiro semestre de 2014 – vale lembrar – foi marcado por algumas greves importantes, como a dos garis no Rio de Janeiro; dos rodoviários e trabalhadores da educação básica em diversos Estados; dos professores, estudantes e funcionários das universidades paulistas; das diversas categorias do funcionalismo federal; dos metroviários em São Paulo; e pelas lutas do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e outros movimentos populares por moradia. Além dessas lutas, foram realizadas diversas manifestações contra os gastos da Copa do Mundo em todas as cidades-sede.

A maioria dessas reivindicações, apesar de não terem sido unificadas, acabou sendo vitoriosa, explicitando a correlação de forças que foi estabelecida na sociedade a partir das jornadas de junho de 2013. E revelaram o aspecto progressista das ações organizadas pela juventude e pelos trabalhadores através de suas entidades e movimentos representativos. Em muitos casos, as direções pelegas dos sindicatos foram ultrapassadas pela base de suas categorias.

Já no segundo semestre, mesmo com a realização de outras greves também importantes – com destaque para a dos trabalhadores dos correios, dos bancários e das três universidades públicas de São Paulo –, as eleições acabaram tendo maior atenção da população.

O resultado das eleições mostrou o aumento do descrédito da população em relação às instituições políticas. No segundo turno, mais de 44 milhões de pessoas deixaram de votar ou votaram em branco ou nulo. O grande responsável pelo aumento desse descrédito foram os 12 anos de governos do PT. Lula e Dilma deram sequência e aperfeiçoaram as políticas neoliberais, bem como os métodos corruptos dos tucanos que, no caso do PT, se expressaram no “mensalão” e, mais recentemente, no “petrolão”.

Apesar de um importante crescimento eleitoral do PSOL – mesmo sem uma frente de esquerda socialista –, é inegável que setor majoritário da população, principalmente a juventude, enxergou Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) como alternativas possíveis. Nem um nem outro, porém, apresentou alguma diferença fundamental em relação à política econômica de Dilma Rousseff. Como se sabe, os tucanos, quando na presidência do país, colocaram em prática uma política de ataques expressa por privatizações, contrarreformas neoliberais, arrocho salarial, corte de gastos nos setores sociais e repressão e criminalização de movimentos sociais.

Como havia mais semelhanças do que diferenças entre Dilma e Aécio, os marqueteiros foram obrigados a realizar, no segundo turno, uma campanha de “desconstrução” baseada em ataques pessoais. Mas, passado o segundo turno, em virtude do agravamento da situação econômica do país, Dilma deixa claro que vai adotar tudo aquilo que acusou Marina Silva e Aécio Neves de fazer caso fossem eleitos. A primeira medida foi aumentar a taxa básica de juros e anunciar o novo Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, indicado pelos banqueiros.

A atual equipe econômica informou que alguns reajustes de tarifas e preços são necessários. Já houve aumento da gasolina e o próximo reajuste será das tarifas de energia. Mas as previsões de ataques não param por aí. Para 2015, o governo pretende aumentar o corte de gastos e retomar as privatizações de rodovias, portos e aeroportos, além das contrarreformas neoliberais trabalhistas e previdenciárias.

Não bastassem estes ataques, há uma crise hídrica atingindo Estados importantes, como é caso de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. No caso específico de São Paulo, mais de 75% da população já teve a sua vida prejudicada pela falta de água. O governador Geraldo Alckmin (PSDB), apesar de negar que há racionamento, será obrigado a antecipar o término das aulas na rede estadual de ensino.

Diante dessa realidade, alguns setores industriais, como bebidas, têxtil e químico, informaram que serão obrigados a demitir trabalhadores. Apesar de vivermos uma das maiores estiagens da história de São de Paulo, o grande responsável por essa crise hídrica são os sucessivos governos tucanos que em vinte anos não construíram um reservatório para a captação e tratamento de água.

Para garantir água para a população dos Estados do país em que há crise hídrica, bem como barrar os novos ataques do governo Dilma, é necessário que ocorra, em 2015, o que faltou em 2013 e 2014: a construção de um espaço amplo e democrático que permita coordenar e unificar as lutas. Essa construção passa pela realização de um Encontro Nacional dos Movimentos Sociais.

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