Por Antonio Veiga
Quando o apito do mexicano Marco Rodriguez soou, encerrando o maior vexame da história centenária da Seleção Brasileira, deu-se início a um processo natural e repleto de suposições: a procura por explicações, por culpados e até mesmo algum consolo ou esperança para se apegar. O futebol do país pentacampeão está em xeque.
Em uma nação onde o segundo colocado é visto como o primeiro perdedor, nada menos do que a taça importa. Adicione-se ao caldeirão a pressão natural por ser país sede e a certeza de estar entre o céu e o inferno. De ser herói ou vilão. Vencer e convencer, encantar e honrar o manto. O fardo foi pesado e as lágrimas de pânico escorreram a torto e a direito ao longo de toda a Copa.
Uma derrota qualquer já abriria espaço para todos esses questionamentos. Mas o D maiúsculo escancarou fragilidades que, no meio de tantas análises de uma nação esfacelada, extrapolaram as quatro linhas e chegaram à própria sociedade. A organização se opondo ao improviso. O planejamento alemão atropelando o jeitinho brasileiro. Marcas que não podem ser esquecidas.
Para buscar saídas, o futebol brasileiro olha justamente para o exemplo de seu algoz. Pipoca na mídia nacional a evolução da formação de atletas. A federação dos atuais campeões, em pesquisa recente, foi considerada a instituição mais confiável daquele país. A atual conquista é totalmente atribuída ao projeto que lapida jovens talentos e forma treinadores de norte a sul do território alemão.
No entanto, a taça erguida pelo capitão Phillip Lahm no Maracanã celebra muito mais do que o título principal do esporte mais atraente do mundo. É a primeira vez que a Alemanha unificada se abraça para festejar tal feito. E o time é o espelho deste novo país. Com jogadores tendo liberdade para praticar o Ramadã. Com Özil, filho de turcos, com Khedira, filho de tunisianos. Fruto do relacionamento entre uma ganesa e um alemão, Boateng é o primeiro negro campeão com a camisa alemã. Isso hoje é a Alemanha, um país plural que preserva sua história como forma de impedir que as atrocidades de seu passado recente voltem a acontecer. E realmente não teria lugar melhor para esta história ser escrita do que no Brasil.
Derrotado impiedosamente dentro de campo, o Brasil ganhou e muito fora dele. Se a vitória fora de campo, que sempre pareceu tão distante, está sendo muito comentada, é possível também dar uma guinada na estrutura do futebol nacional – repleto de glórias, mas carente de inovações táticas e técnicas. Para isso, será necessário romper com muitas barreiras, que passam pelo pensamento retrógrado de dirigentes que ocupam o poder há décadas.
Mas e o time? Festejada após a vitória incontestável sobre a Espanha na Copa das Confederações, um ano atrás, a equipe comandada por Neymar sai aos cacos do Mundial. Gostando ou não do grupo de jogadores, não há alternativa ao torcedor senão tentar analisar o time com menos paixão. Afinal, semifinalista após doze anos, e quarta colocada, a seleção conta sim com grandes talentos.
Jogadores que vestem as camisas dos principais clubes do mundo. Um time que sempre teve de ouvir dos críticos que era novo demais. E talvez realmente fosse. Faltaram a Felipão jogadores mais rodados. Contudo, o treinador do penta não teve confiança em medalhões como Kaká, Ronaldinho e Robinho, que há algum tempo não rendem o mesmo que outrora. Adriano então, que teria tudo para ser o camisa 9 desta equipe, não sabe o que é futebol profissional há anos.
Diferente do ciclo que antecedeu esta Copa, estes quatro anos de preparação para a Rússia serão repletos de competições. Haverá duas disputas de Copa América: ano que vem, no Chile, e em 2016, nos EUA, em parceria com a Concacaf. As eliminatórias começarão pouco depois da primeira das disputas continentais.
Vencedor das últimas três edições da Copa das Confederações, talvez seja bom para o Brasil ficar de fora da próxima vez. Coincidência ou não, os títulos conquistados um ano antes da Copa atrapalharam de alguma forma o desenvolvimento do trabalho quando era para valer.
Após passar por cima da Alemanha e da Argentina, em 2005, o time treinado por Parreira fez uma das piores preparações para disputar uma Copa, em 2006. Todavia, o que os três últimos mundiais mais têm em comum é o fato de o grupo ter se fechado um ano antes, abrindo pouco espaço para mudanças. Em 2006, jogadores como Cafú, Roberto Carlos, Adriano e Ronaldo chegaram com péssima forma física e técnica. Em 2010, o povo clamava por Neymar, mas Dunga foi teimoso. E, agora, ficamos presos num sistema tático bastante estudado pelos rivais, em que o Felipão não soube encontrar alternativas, por ter convocado muitos nomes para funções semelhantes e sem ter como alterar o jeito de jogar.