A missão de Cecilia Brunson

Brasil Observer - jul 14 2016
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Curadora chilena está empenhada em difundir a arte moderna e contemporânea brasileira entre o público britânico

 

Por Ana Toledo

Curadora independente e especialista em arte latino-americana, Cecilia Brunson nasceu no Chile e trabalhou a maior parte da sua vida em Nova York. Há sete anos em Londres, hoje Cecilia está empenhada na missão de estreitar as conexões entre a arte moderna e contemporânea brasileira e o Reino Unido. Para cumprir seu objetivo, está colaborando com a Galeria de Arte Almeida e Dale, de São Paulo, através de uma série de exibições individuais de três artistas brasileiros no Cecilia Brunson Projects, espaço aberto em 2013.

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O primeiro brasileiro da série foi o artista pop Claudio Tozzi – cujos trabalhos também foram incluídos na mostra “The World Goes Pop”, da Tate Modern. Agora, o Cecilia Brunson Projects apresenta ao público londrino o artista ítalo-brasileiro Alfredo Volpi, até o dia 29 de julho. Para encerrar a série, a galeria vai receber no segundo semestre deste ano obras de Willys de Castro.

Mas os projetos não param por aí. Além das mostras individuais, Cecilia Brunson trabalha para levar as obras desses artistas para outros países da Europa. “É muito importante para nós, pois há uma espécie de longevidade no trabalho que produzimos”, destacou Cecilia em entrevista ao Brasil Observer.

 

Seu foco sempre foi a América Latina e agora você tem uma missão especial no Reino Unido. Como se dá sua relação com o Brasil?

O Brasil é uma importante referência para toda América Latina. Tem uma história forte e única, de como foi construída sua estética na história da arte moderna. Eu sempre quis trabalhar com o Brasil, mas nunca tinha acontecido até surgir essa oportunidade com a Galeria de Arte Almeida e Dale.

 

Qual foi a inspiração para a exibição desses três artistas brasileiros?

São dois lados. Um é a possibilidade de ter a colaboração de alguém do Brasil, uma espécie de suporte. O outro é que quando mudei para Londres percebi que existiam muitos artistas brasileiros representados em galerias britânicas, inclusive na Tate Modern. Da mesma forma, nos anos 1960, Guy Brett fez a curadoria de uma exposição na Signals Gallery dando visibilidade para Helio Oiticica, Lygia Clark, Mira Schendel e Sergio Camargo. Eles tiveram a oportunidade de expor seus trabalhos aqui. Portanto, há uma relação com Londres. No meu caso, por exemplo, a exposição do Volpi, que é um artista bem conhecido no Brasil, mas muito pouco conhecido no resto do mundo; um importante artista para o movimento modernista e, também, para o neoconcretista no Brasil. É uma figura muito importante para ser explorada e por isso chamei o curador Michael Asbury para criar a atual exibição. É uma exibição incrível porque é para apresentá-lo no exterior.

 

Como funciona a parceria com a Galeria de Arte Almeida e Dale?

Eles têm uma coleção privada muito boa. Olho para a coleção e vejo o que eles têm, e a partir do que estou vendo, através do inventário, eu posso pensar na próxima exibição. Isso é maravilhoso, é um trabalho de curadoria dos sonhos poder selecionar incríveis peças para apresentá-las juntas, seja pela visão de curadoria ou pela proposição histórica. Para mim, na verdade, é uma ideia de colaboração, porque estamos nisso para trazer este tipo de patrimônio para o Reino Unido. E isso se encaixa com o nosso interesse na América Latina.

 

Qual é a conexão entre os três artistas da série?

O fio condutor é a visibilidade de artistas que nunca estiveram no Reino Unido. Então o público não está vendo o que está habituado, mas o que nunca viu antes. O que para mim é ótimo e um desafio torná-los interessantes.

 

Como o público está reagindo?

Eu acho que o público tem ficado bem surpreso com o que estamos fazendo aqui, pois a qualidade desses trabalhos está mais para a qualidade de trabalhos expostos em museus. Encontrar esse tipo de material com peso histórico num lugar tão pequeno e escondido de Londres, ainda mais numa galeria que está funcionando há apenas dois anos e meio, surpreende. E a recepção tem sido incrivelmente boa, pois o público é consciente de que para ver este tipo de trabalho só mesmo indo para o Brasil.

 

Como você vê recepção da arte latino-americana em Londres?

A recepção é incrivelmente positiva. Acho que a recepção mais forte em Londres é com os artistas brasileiros, colombianos e mexicanos, que têm muita visibilidade porque esses países têm as economias mais fortes. Existem muitas galerias para representar essas figuras principais. Nessa montanha russa de quem é quem e quem vai realizar uma apresentação, sempre existe o interesse na América Latina. Acho isso uma realização, mas não podemos ver apenas os louros, mas sim como um trabalho que precisa ser continuado. Muitos curadores têm gerado impacto massivo com exposições em museus. Como galeria, nós também estamos lutando nesta batalha de representações.

 

Alfredo Volpi: At the Crossroads of Brazilian Modern Art

Quando: Até 29 de julho (terça a sexta, 2pm às 6pm)

Onde: Cecilia Brunson Projects (Royal Oak Yard, Bermondsey Street, SE1 3GD)

Info: www.ceciliabrunsonprojects.com

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