Tem causado alvoroço nos últimos dias o samba da Imperatriz Leopoldinense, para o Carnaval 2017.
“Xingu, o clamor que vem da floresta” é o título do enredo em defesa dos índios, daquela reserva, e em denúncia ao intenso uso de agrotóxicos pelo agronegócio que avança pela região.
A carapuça serviu a empresários do business do campo.
Entidades de classe começaram a soltar notas públicas de repúdio ao Carnaval da Imperatriz Leopoldinense. Uma jornalista porta-voz do agronegócio chegou a defender a morte de índios por doenças como malária (é inacreditável mas é verdade; confira aqui).
Como bem escreveu Alan Tygel, neste texto no Vi o Mundo, “depois de um ano marcado, entre outros, por ruralistas formando milícias para atacar indígenas, a Imperatriz Leopoldinense acerta com beleza e elegância o ego daqueles que se acham donos do país”.
Sim, as mega corporações ruralistas – não os trabalhadores da roça, nem cooperativas e empreendimentos familiares – se acham donas do Brasil.
À mínima contestação ao modelo nefasto de produção que impõem, agem como reagiram – atacando os críticos, ludibriando a opinião pública, e se aproveitando do poder econômico de que dispõem.
O samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense está, como já escrevemos aqui, entre os melhores do ano – um ano, aliás, de farta safra de sambas de Carnaval.
Escrevemos também que diante de tantos excelentes sambas, difícil cravar “este é o soberano”.
Ao, porém, colocar em debate o embate agronegócio exportador versus produção sustentável, a Imperatriz, meio que sem querer querendo, fez o Carnaval cumprir uma de suas funções – a de divertir, mas a de mobilizar também. Por isso, alça seu samba à condição de campeão de 2017.
Reproduzimos, a seguir, trechos da nota oficial da escola, em defesa de seu enredo, seu samba, seu desfile – em defesa de suas defesas:
“Após a divulgação de nossas fantasias, algumas delas denunciando o uso irresponsável de agrotóxicos, fomos alvo de uma intensa campanha difamatória. Embora não seja nossa intenção generalizar, importantes pesquisas científicas apontam os diversos males que o agrotóxico traz para o solo, para o alimento e consequentemente para a saúde de quem o consome. Este é apenas um aspecto do nosso rico e imenso enredo, mas desde então temos recebido críticas e inúmeras notas de repúdio dos mais diversos setores do agronegócio.”
“Em nenhum momento atacamos o setor do agronegócio e seus trabalhadores. A sinopse de nosso enredo está disponível para consulta pública em nossos canais oficiais de comunicação. Mesmo depois de todos os esclarecimentos prestados por nosso carnavalesco aos mais diversos veículos de comunicação, temos sido atacados com críticas injustas e até com ofensas ao samba, importante matriz de nossa cultura, e ao carnaval, a maior festa popular do planeta.”
“Acreditamos que, para além do entretenimento, o carnaval e a escola de samba – levando em consideração que os olhos do mundo se voltam para nossa festa – têm um compromisso com o social e o desenvolvimento sustentável.”
“A nossa mensagem é de preservação, respeito, tolerância e paz. Todos os que acreditam nesses valores estão convidados a celebrar conosco.”
“Salve o verde do Xingu, viva o carnaval, a Imperatriz Leopoldinense e todos os trabalhadores do Brasil!”
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Por @waasantista, postado de Curitiba
| Foto: Divulgação Liesa