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Famílias do Caminho São Sebastião, vítimas do incêndio e da insensatez coletiva que anestesia Santos

Wagner de Alcântara Aragão - jan 04 2017
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Em torno de 200 famílias tiveram suas casas destruídas por um incêndio no Caminho São Sebastião, região de palafitas do Rádio Clube, bairro da Zona Noroeste de Santos.

A tragédia aconteceu na noite da última segunda-feira, 2 de janeiro.

Felizmente, só perdas materiais. Sem contar, claro, o susto, e todas as sequelas psicológicas que uma experiência como essa pode deixar.

 

 

O pior é o seguinte: os barracos do Caminho São Sebastião, bem como das redondezas – na área chamada de “dique” – não deveriam existir mais, há um bom tempo.

Todas aquelas famílias já poderiam estar vivendo em lar com mais conforto, segurança, saneamento básico, se um projeto de errradicação das palafitas iniciado há mais de 20 anos tivesse sido concluído.

O projeto – denominado “Vida Nova no Dique” – foi uma iniciativa do então prefeito David Capistrano da Costa Filho (morto em 2000), cuja gestão (1993-1996) sofreu oposição ferrenha dos setores mais reacionários da sociedade santista, dentre eles a mídia local.

Os segmentos conservadores não engoliam o histórico comunista de Capistrano (tinha sido do PCB; quando prefeito, era do PT), tampouco o fato de não ser da cidade.

Com toda essa dificuldade local, somada à conjuntura nacional (tempos da tsunami neoliberal que reduzia o Estado brasileiro e os investimentos públicos), Capistrano conseguiu emplacar o ousado projeto de urbanização do dique. Aplicou dinheiro do município e ainda obteve um pouquinho de recursos federais, algo raro naqueles tempos de privataria.

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Evidentemente, um projeto daquela envergadura não se completaria num mandato.

Quem sucedeu Capistrano, porém, não deu à urbanização do dique – que livraria Santos das moradias indignas sobre o mangue – a devida prioridade.

A sociedade santista, em especial esses segmentos conservadores e que assumiram o poder administrativo, político e econômico da cidade, ignorou o descaso. Com a omissão, referendou o abandono do projeto.

Beto Mansur, hoje deputado federal pelo PRB, administrou Santos entre 1997 e 2004; na sequência, João Paulo Tavares Papa (atualmente deputado federal pelo PSDB), que ocupou a prefeitura entre 2005 e 2012. Agora, e desde 2013, é Paulo Alexandre Barbosa, do PSDB, o prefeito.

Os três precisam de ser cobrados, questionados.

Por que, na obrigação de prefeito, não concluíram o projeto de Capistrano que erradicaria as palafitas dos diques do Rádio Clube? O que fizeram e deixaram de fazer nesse sentido? E por que?

A fatia reaça da sociedade santista, ainda no comando, também deve esse mea culpa. No afã de detonar qualquer vestígio de um governo democrático popular, passou, e passa por cima, com insensatez, dos mais necessitados.

 

Por @waasantista | Postado de Curitiba

| Fotos: Reprodução TV Santa Cecília e reprodução de D.O. Urgente

 

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