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Marcos Bagno, em Curitiba, identifica um ponto comum entre esquerda e direita: o preconceito lingüístico

Wagner de Alcântara Aragão - out 07 2016
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A defesa da tese de que o português brasileiro adquiriu características que tornam o idioma autônomo, e não apenas uma variante da língua portuguesa, e o rechaço ao que chama de “preconceito lingüístico” – o hábito de inferiorizar aqueles que não dominam a norma culta – foram dois dos principais recados que o professor Marcos Bagno transmitiu a professores e estudantes da área de Letras, em evento na manhã desta quinta-feira, 6 de outubro, na Univesidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba.

Doutor em Filologia e escritor, Marcos Bagno assinala que o preconceito lingüístico está tão enraizado, que mesmo militantes e ativistas que lutam contra uma série de discriminações sociais acabam reproduzindo o discurso de menosprezo aos que ignoram as engessadas regras gramaticais.

“[O preconceito lingüístico] é um fenômeno que reúne ‘alegremente’ desde a extrema direita à extrema esquerda”, afirmou Bagno, com sua ironia característica.

O lingüista avalia que o preconceito contra os que “falam errado” se acentou com o processo de ascensão social experimentado pelas classes menos favorecidas, nos últimos anos. É um preconceito semelhante ao que as elites nutrem contra os pobres que passaram a ter acesso aos mesmos bens e modos de consumo – como viajar de avião – antes exclusividade dos mais abastados.

“A ascensão econômica das classes mais pobres vai trazendo junto o modo de falar dessas classes”, comparou o filólogo.

O preconceito ocorre não apenas contra aqueles que não dominam a norma padrão. O preconceito é, na verdade, contra o português brasileiro de um modo geral, assinala Marcos Bagno. “Há forte preconceito contra a língua falada no Brasil, considerada um ‘português estropiado’. Como se do outro lado do Atlântico [Portugal] fosse um ‘paraíso lingüístico’. Como se 10 milhões de portugueses falassem melhor que os 200 milhões de brasileiros.”

Esse preconceito é mais recorrente dentro do Brasil do que fora. Marcos Bagno trouxe exemplos de que na Europa e na América Latina o português brasileiro é valorizado de tal forma que é enxergado com idioma próprio, não uma variante do português de Portugal.

É de Portugal, aliás, um dos exemplos trazidos por Bagno. “Em Porto, naqueles ônibus de linha turística, as informações transmitidas em áudio são traduzidas para vários idiomas, e uma das opções de tradução para o passageiro é para o ‘português brasileiro'”.

Há livros para italianos e para falantes de espanhol na América Latina feitos para explicar como é o português brasileiro. Um desses livros para falantes de espanhol é, inclusive, de autoria de Marcos Bagno.

O lingüista é autor também de uma gramática do português brasileiro – versão de bolso e uma versão pedagógica. A definitiva incorporação do ‘você ‘como pronome de tratamento corriqueiro e ainda aplicação desse pronome quando para se tratar de impessoalidade (“Em Curitiba, você tem um clima muito instável”) são algumas das especificidades da língua brasileira, e assumidas como padrão gramatical do idioma, demonstrou Marcos Bagno.

A palestra do filólogo fez parte do II Encontro de Professores e Estudantes de Línguas e Culturas, em comemoração aos 20 anos do Centro de Línguas (Celin) da UFPR.

 

Por @waasantista (texto e foto), postado de Curitiba

 

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