Tenho percebido tanto em Curitiba como em Santos, cidades onde estou com mais frequência, uma onipresença dessas propagandas, geralmente improvisadas, que indicam o caminho para a cura dos males que afligem grande parte dos indivíduos hoje.
Faixas ou cartazes afixados em postes nas esquinas mais movimentadas informam endereço e telefone de cartomantes, videntes que leem búzios, expertos em astrologia, dentre outros imbuídos de poderes sobrenaturais capazes de apontar a solução para nossos problemas.
Até certo tempo atrás, esse tipo de anúncio da saída para a salvação em sua maioria tinha como alvo os enrolados em questões financeiras.
“Ganhe dinheiro sem sair de casa” e frases do tipo eram comuns em folhetinhos, em mensagens enviadas por e-mails, e mesmo nos classificados dos jornais.
Também era comum a oferta de serviços que livravam infratores de trânsito de suas punições.
“Foi multado? Entramos com recurso…”, dizia-se.
Agora, esses convites nas esquinas em regra têm outro apelo.
Dirigem-se aos insatisfeitos com sua vida sentimental.
“Trago a pessoa amada de volta” e outras promessas nessa linha são as mais comuns em tais sinalizações.
Algumas se garantem tanto que oferecem a possibilidade de se pagar pelo serviço só depois de o desejo ter sido atendido. Outras, asseguram devolver o dinheiro se o propósito não for alcançado.
Do jeito que essa publicidade está a se espalhar informalmente pelas ruas, é de se concluir que nunca antes na história desse país se teve notícia de tanta gente apta a conduzir, à salvação, os semelhantes que buscam sair de seus estágios de sofrimento.
Mas é de se concluir também que, se esse negócio pulula, é porque há demanda.
É de se concluir, portanto, que há – no mínimo – uma sensação generalizada de descontentamento, gerada nem tanto por questões materiais, e sim muito mais por assuntos de ordem, digamos, espiritual.
“Cartomante”, de Ivan Lins e eternizada na voz de Elis Regina, parece ter sido composta e interpretada sob medida para (também) estes tempos.
Encerramos, assim, com a música.
Por Wagner de Alcântara Aragão, jornalista e professor
| Twitter: @waasantista
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