Em torno de 5 mil pessoas foram às ruas do Centro de Curitiba na hora do almoço desta quinta-feira, dia 20 de agosto, contra a ameaça de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
Integrantes e lideranças de movimentos sociais, estudantis, sindicatos e partidos políticos repudiaram a tentativa engendrada pela direita e pela elite econômica e política, de destituição (ilegal, ilegítima e portanto golpista) da presidenta.
A mobilização não foi, todavia, uma defesa alienada do governo de Dilma Rousseff.
Lideranças de diversas entidades condenaram a política econômica comandada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy; outros criticaram a forma com que o governo vem conduzindo negociações com categorias do serviço público federal em greve (como a dos funcionários do INSS); praticamente todos pediram um realinhamento à esquerda, por parte do governo.
Alguns manifestantes, por exemplo, portavam faixas e outros distribuíam panfletos reivindicando a a saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. A hipótese de o governo Dilma acatar a chamada “Agenda Brasil”, liderada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, também foi rechaçada.
Da mesma forma, foi pleiteado o fortalecimento de instituições públicas fundamentais para o desenvolvimento do país, como Caixa Econômica Federal e Petrobrás.
AVANÇOS
Apesar das críticas pontuais ao segundo mandato de Dilma, os manifestantes ressaltaram os avanços do Brasil nos últimos 12 anos de governo petista – os dois primeiros mandatos de Luís Inácio Lula da Silva e o primeiro da própria Dilma.
Para as lideranças, tratam-se de conquistas fundamentais e que estão em risco, com a ameaça de impedimento da atual mandatária na República.
É o que assinalou um dos representantes do Movimento Popular por Moradia (MPM) de Curitiba, o “Chocolate”.
O MPM foi um dos movimentos que mais marcaram presença no ato desta quinta na capital paranaense – segundo Chocolate, cerca de 1 mil pessoas estavam naquela mobilização.
“Estamos aqui porque queremos que [se] deixe a Dilma [no governo]. Não pode haver um ‘terceiro turno’ [eleitoral]. Ela ganhou as eleições. A Dilma joga do lado dos pobres. O outro lado [oposição de direita] joga do lado dos ricos”, disse.
Cartazes que destacavam a ampliação do acesso à educação (em especial ao ensino superior), outros que frisavam a importância do regime de partilha na exploração do petróleo da camada pré-sal (implantada no final do governo Lula) e discursos que lembravam o quão custoso foi à sociedade para recuperar a democracia usurpada pelo golpe civil-militar de 1964 também foram marcantes.
“Não nos vencerão, porque a democracia não vai acabar”, afirmou o presidente do Grêmio Estudantil do Colégio Estadual do Paraná, Felipe Perez, em referência à ameaça de novo golpe, 51 anos depois.
MORO, SERRA E CUNHA
Os manifestantes alertaram ainda para a necessidade de maior isenção na Operação Lava Jato.
“Moro, e o PSDB?”, questionava-se num cartaz, em alusão ao fato de as denúncias de corrupção envolvendo integrantes da legenda tucana serem minimizadas, quando não ignoradas.
Representantes da Federação dos Petroleiros criticaram ainda o uso da Lava Jato para enfraquecer a Petrobrás e assim se abrir caminho para a entrada de transnacionais na exploração do petróleo.
Um boneco, simbolizando a norte-americana Chevron e sua ligação com o senador José Serra (PSDB-SP), foi alegoria utilizada como protesto contra o projeto do parlamentar que tira a Petrobrás da exploração do pré-sal.
Vale lembrar que uma conversa de Serra com executiva da companhia estadunidense, prometendo mudar as regras do pré-sal, foi revelada pelo Wikileaks em dezembro de 2010, depois das eleições em que Serra fora candidato a presidente.
Outra figura não poupada pelos manifestantes foi o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.
PSOL
A manifestação em Curitiba contou com a participação, além dos movimentos já citados, de lideranças do MST, do Movimento dos Atingidos por Barragens, da União Nacional dos Estudantes, da União da Juventude Socialista, centrais sindicais como CUT, CTB e Nova Central Sindical, e coletivos como o Kizomba.
Lideranças de partidos da coalizão governista, como PT, PCdoB e PDT, também estavam presentes, mas representantes do Psol – que faz oposição à esquerda do governo Dilma – igualmente participaram.
Ex-candidato à Prefeitura de Curitiba pelo partido, Bruno Meirinho discursou defendendo a permanência de Dilma, todavia cobrando uma aproximação da presidenta com os movimentos populares.
“É pela via da esquerda que se deve enfrentar o golpismo da direita”, sublinhou.
ÊXITO
Em comparação à manifestação de domingo, dia 16, promovida pela direita pró-impeachment de Dilma, o ato deste quinta contou com público bem menor.
No entanto, a avaliação é a de que a manifestação deste 20 de agosto foi exitosa. Afinal, o evento ocorreu num dia de semana, em horário comercial – reunir 5 mil pessoas nessas condições não seria, dessa forma, pouca coisa.
(Fora que a divulgação na mídia dos atos do dia 20 Brasil afora foi ínfima perto do espaço dado às mobilizações de 16 de agosto)
A concentração da manifestação começou antes das 11 horas, na Praça Santos Andrade. Às 12h15, os manifestantes saíram em caminhada pelas ruas Marechal Deodoro e XV de Novembro, até a Boca Maldita (tradicional ponto de atos em Curitiba), um trajeto de seis quadras. O ato se encerrou por volta das 13h30.
Por Wagner de Alcântara Aragão, para os Jornalistas Livres | Twitter: @waasantista
| Fotos: Isabella Lanave (R.U.A. Foto Coletivo), Leandro Taques e Laiza Venuto Marinho
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