Blog: MACUCO Voltar a lista de posts

O dia em que os professores sentiram no corpo e na alma, e o mundo pela internet, a truculência de quem governa o Paraná

Wagner de Alcântara Aragão - abr 30 2015
manifestacao_professores_curitiba_foto_maurilio_cheli01-850x567
Ícaro, estudante do Colégio Estadual do Paraná, atingido pelo bombardeio (foto: Maurílio Cheli/SMCS)

29 de abril de 2015.

A menos de dois dias do Dia Internacional do Trabalho o mundo soube pela internet como os atuais governantes do Estado do Paraná tratam os trabalhadores, quando o que está em jogo é defender seus (dos governantes) interesses.

Fotos, vídeos e relatos da violência empregada para impedir a manifestação dos professores da rede estadual de ensino se espalharam pelas redes sociais, viraram manchete em sites de notícias de várias partes do planeta.

E neste rincão da Terra, em Curitiba, no Centro Cívico, onde estão as sedes dos três poderes, os professores, estes sentiram no corpo, na alma, a truculência dos que estão nos cargos de comando desses três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – no Estado do Paraná.

Uma tarde fria de outono de uma quarta-feira cinza, de cinzas das bombas arremessadas contra e sobre o povo; quarta-feira ardida, da ardência da pimenta do gás para sufocar o grito.

Esta tarde, este 29 de abril entram para a história da pior forma possível.

  • Professores do Paraná de luta em luto: vídeo do professor Tiago Alvarez flagra ataques

A mobilização no Centro Cívico, que reuniu em torno de 20 mil pessoas, era contra um projeto de lei enviado pelo Executivo à Assembleia Legislativa, e que muda o sistema de custeio das aposentadorias e pensões dos servidores.

Trata-se, o projeto, da forma mais fácil e rápida que o governador Beto Richa, do PSDB, encontrou para cobrir o rombo das finanças do Estado, que ele mesmo criou nos seus primeiros quatro anos de mandato.

Trata-se, porém, ao mesmo, de um claro risco de o Estado se recuperar momentaneamente, agora, e daqui a alguns anos quebrar de vez. Não só os servidores seriam prejudicados, com a solvência do fundo previdenciário lá na frente. Com o Estado quebrado, toda a sociedade perde.

 

manifestacao_professores_professor_ferido

Professor Affonso, também do Colégio Estadual do Paraná, um dos 200 feridos (foto: Telma Téu)

 

Beto Richa, como governador, é o principal responsável pela repressão de hoje. Foram quase duas horas de bombardeios da Polícia Militar – que é comandada pelo governador – contra os professores. Duas horas de bombardeios – sim, duas horas de bombardeios, eu estava lá – que resultaram em mais de 200 feridos. Duzentos feridos fisicamente, porque na verdade todos os 20 mil ali presentes, todos os que se solidarizaram mundo afora, se machucaram.

O secretário de Estado da Segurança Pública, Fernando Francischini, do Solidariedade (sim, é este, ironicamente, o nome do partido ao qual o ex-delegado pertence), é outro que deve responder. Afinal, depois do governador, é ele quem comanda a Polícia Militar.

O presidente da Assembleia Legislativa, Ademar Traiano, também do PSDB, não pode ser poupado de culpa. Mesmo com o massacre na porta, que por pouco não se transformou numa tragédia maior, insistiu em tocar a sessão de votação do projeto. “O que acontece lá fora não é responsabilidade da Assembleia”, lavou as mãos.

O Judiciário do Estado do Paraná, que expediu determinação proibindo que as pessoas entrassem na Assembleia para acompanhar in loco a sessão, igualmente tem sua fatia de culpa no episódio. Não tenho aqui, agora, os nomes dos signatários de tais decisões. Assim que tiver, atualizo o post, incluindo-os.

No mínimo estes nomes, e os nomes dos deputados que aprovaram a medida, dando de ombros ao clamor da sociedade, precisam de ficar registrados para não serem esquecidos. Devem ser responsabilizados pelo que promoveram. Seus partidos também precisam de ser cobrados.

Beto Richa é filho de José Richa (1934-2003), uma das lideranças nacionais do Diretas Já, de 31 anos atrás, um dos baluartes da defesa da democracia. Foi governador do Paraná, entre 1983 e 1987, muito admirado por professores e servidores em geral, pelo respeito com que tratou os trabalhadores do setor público. De onde estiver deve estar muito, mas muito triste, pela postura insensível, soberba e tirana do filho hoje no poder.

 

 

Por Wagner de Alcântara Aragão, jornalista e professor | Twitter: @waasantista

| Postado de Curitiba