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O “Chupa, Rede Globo” na Vila Belmiro mostra: talvez sem notar, sociedade já clama por reforma na mídia

Wagner de Alcântara Aragão - abr 22 2015
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Aos poucos, e talvez sem perceber ou não tendo muita noção dessa epifania, a sociedade brasileira começa a entender que há algo de errado no mercado de mídia no Brasil, que esse defeito é prejudicial ao interesse público e que mudanças se fazem urgentes.

O “chupa, Rede Globo” que os 18 mil torcedores do Santos Futebol Clube entoaram na Vila Belmiro na noite do último domingo, dia 19, é uma demonstração dessa consciência coletiva se formando.

 

 

Não que todos ali, nem sequer a maioria, tivessem clareza de que as emissoras de rádio e televisão no país são objeto de oligopólio. De que a grande e velha mídia em todo território nacional está concentrada na mão de menos de uma dúzia de famílias. Que os artigos 220 a 224 da Constituição Federal, os quais tratam da Comunicação Social, são quase integralmente descumpridos.

Mas, se não tem esse diagnóstico assim tão preciso, boa parte da sociedade começa a sentir na pele os efeitos nefastos dessa desregulamentação absoluta nos serviços de comunicação audiovisual.

No futebol, pela popularidade e por mexer com paixões, essa sensação é cada vez mais recorrente.

Os brasileiros se dão conta de que o monopólio da Rede Globo sobre esse patrimônio cultural que é o futebol deixa todos – o esporte, atletas, clubes e, principalmente, torcedores – reféns dos interesses privados da emissora.

Que não são, claro, os interesses do povo.

Os torcedores do Santos não engoliram o fato de, no domingo anterior, 12 de abril, a Rede Globo ter deixado de transmitir a partida do Peixe para exibir um filme (Homem Aranha) e assim ter mais flexibilidade para interromper a programação e inserir flashes das manifestações pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Não que todos os torcedores santistas tivessem identificado na manobra uma forma de inflar as manifestações, de engrossar o coro dos que articulam o golpe do impeachment.

Notaram, todavia, que o futebol é vítima de sequestro da Globo, de seu monopólio. A emissora transmite o jogo que quer a hora que quer. Se não tem ela, o torcedor fica sem opção. Nenhum outro canal pode.

Ora, há, portanto, um ambiente propício para fazer a sociedade entrar de vez no debate por um marco regulatório para as comunicações. O terreno é fértil para que se compreenda que, entre as reformas das quais o Brasil carece, uma das mais urgentes é a reforma do latifúndio da mídia.

É a democratização da mídia que se clama das arquibancadas, ainda que estas próprias não saibam (ainda) ser essa a tradução do “chupa, Rede Globo” o qual bradaram.

O curta-metragem abaixo ajuda a entender como, do jeito que está, não dá mais para ficar:

 

 

Por Wagner de Alcântara Aragão, jornalista e professor | Twitter: @waasantista

| Postado de Curitiba