A semana termina com uma sensação de alma lavada, quando o assunto é política.
O banho, de franqueza, foi dado primeiro por Cid Gomes, na quarta-feira, dia 18, e depois por João Pedro Stédile, na sexta, dia 20.
Cid Gomes e Stédile não disseram nenhuma novidade.
Mas suas declarações foram históricas pelas circunstâncias e pelo contexto.
Depois que a semana começou sob a ressaca das manifestações pelo golpe do impeachment (no domingo, 15) – atos esses inflamados pela mídia, com Rede Globo na dianteira – a fala das duas lideranças, em público, com transmissão ao vivo, escancarou a hipocrisia.
Ex-governador do Ceará e até aquele momento ministro da Educação, Cid Gomes (do Partido Republicano da Ordem Social, Pros) passou merecido pito na suposta base aliada da presidenta Dilma Rousseff.
O recado foi principalmente para parlamentares do PMDB e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, do mesmo partido.
Ou se assumam como situação ou larguem o osso. Parem de achacar o governo, em síntese afirmou o então ministro.
Claro que a invertida abalou as relações entre Congresso e Palácio do Planalto. Porém, estremecidas do jeito que já estavam, não causou dano maior. Ao contrário: o Planalto conseguiu expor à sociedade como é difícil lidar com um Parlamento tão conservador, negociador e lobista como é, em maioria, o atual.
Cid Gomes teve de deixar o ministério para não complicar Dilma. No fundo, ajudou a presidenta, em externar aquilo que seguramente estava entalado na garganta da mandatária.
Stédile, da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), discursou na solenidade de abertura da 12ª Festa da Colheita de Arroz Ecológico, em assentamento do MST em Eldorado do Sul (RS).
A presidenta Dilma Rousseff estava presente.
Stédile assegurou todo apoio do movimento à governabilidade de Dilma. Não poupou, todavia, criticas à política econômica engendrada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Também rechaçou a subserviência do governo federal ao agronegócio, denunciando sobretudo os efeitos nefastos do modelo agroexportador latifundiário vigente, como a contaminação do ambiente pelos agrotóxicos.
O ponto alto foi quando acusou o viés golpista e antidemocrático da velha mídia, com Globo, como sempre, na dianteira.
https://www.youtube.com/watch?v=wdc_9e_gjng
Quando chegou sua vez de falar, Dilma buscou contemporizar. Mais por diplomacia do que por convicção. Embora tenha dito que não concordava “com tudo o que o Stédile falou”, no fundo, no fundo, como brizolista de formação que é, ela gostou.
Por Wagner de Alcântara Aragão, jornalista e professor | Twitter: @waasantista
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