Por Rosa Bittencourt
Depois de um longo e fresco inverno carioca, passando pela primavera, o blog volta, em pleno verão, e com o maçarico ligado em alta voltagem aqui no Rio. Nos últimos dias de 2015, a sensação térmica bateu os 55 graus, enquanto que o serviço de meteorologia anotava 40, 41, 42 graus. Do calor das ruas, a temperatura nas redes sociais voltou a subir. O alvo dessa vez foi uma paixão nacional: o compositor, cantor e escritor Chico Buarque.
Do alto de seus 70 e poucos anos e ao lado de amigos, ele deixa um boteco no Leblon, na noite de 21 de dezembro, e é surpreendido com xingamentos de um pequeno grupo de jovens bem nascidos na Zona Sul. A discussão, levada na boa pelo compositor, segundo amigos, teve como pivô a opção política de Chico Buarque, filho de fundadores do PT (Sérgio Buarque de Holanda e Maria Amélia Cesário Alvim Buarque de Holanda) e, na maioria das vezes, Chico foi e é um eleitor do PT.
A discussão virou mais um Fla-Flu no apagar das luzes de 2015. Contra e a favor de Chico. E na primeira semana de 2016, uma dupla de mineiros inspirada em mais um ato de intolerância política escrevem a quatro mãos uma marchinha para o carnaval deste ano. Em menos de uma semana, o vídeo com a música “Não enche o saco do Chico” já foi visto por quase 300 mil pessoas. A iniciativa ganhou aplausos no mundo virtual e foi parar na capa dos principais sites de notícias do país.
https://www.facebook.com/vitor.velloso/videos/10156400579415603/?pnref=story
Os músicos mineiros Vitor Velloso e Marcos Frederico fizeram a letra da marchinha, que cita alguns clássicos de Chico como “Cálice”, “Vai Passar”e “Vai trabalhar Vagabundo”. A música vai participar de alguns campeonatos de marchinhas pelo Brasil, como o Mestre Jonas em Belo Horizonte e o da Fundição Progresso, no Rio. Em entrevista ao Brasil Observer, Velloso comemora a repercussão. “Nossa impressão é de que a maior parte das pessoas entendeu e gostou da mensagem contra a intolerância que quisemos passar”.
Velloso chama a atenção para o radicalismo e a intolerância, cada vez mais presente no Brasil e no mundo. “Por questões políticas, como no Brasil, migratórias, como no amedrontador discurso da campanha de Donald Trump (pré-candidato republicano nos EUA), ou religiosas, com o temerário cenário no Oriente Médio e na Europa. Enquanto houver humor haverá esperança de que cada um saiba tratar seus próprios preconceitos para que possamos coexistir e conviver com nossas diferenças. Sempre foi este o caminho. Mesmo em um ano em que o humor foi alvo de ataques, ele persistiu. Então dá sim para acreditar. Basta cada um se levar um pouquinho menos a sério”.