Sábado este que passou, 3 de dezembro, fomos a um show do Criolo em Curitiba.
A apresentação do MC que, em dez anos, saltou do Grajaú para o mundo, foi sensacional, como esperado.
O que vai merecer registro aqui vem, na verdade, da abertura da noite.
Antes de Criolo subiram ao palco MC Marechal e Black Alien.
É de Black Alien as impressões motivadores deste post.
O rapper, há 26 anos na estrada, tem um repertório fantástico: empolgante, para os que há muito acompanham a trajetória dele; contagiante, para os que vão se iniciando na obra do artista.
Além do repertório, chama a atenção a capacidade de fazer ferver a plateia, o engajamento cidadão, político, lúcido.
Agora, bonita mesmo foi a iniciativa do rapper de incluir no palco um intérprete de libras.
Sim, o show de Black Alien conta com um intérprete, que vai traduzindo para o público que não pode ouvir, as músicas que agitam a galera.
Nunca tinha visto isso, tampouco havia tido notícia, de um show musical assim.
O intérprete de libras de Black Alien, o jornalista Fabiano Campos, é, também, artista.
Posiciona-se num canto do palco, porém em local perfeitamente visível, e assume postura harmônica com a performance do rapper. Nem ofusca o MC, mas ao mesmo tempo é atração do espetáculo também.
Fabiano Campos interpreta não só as letras – com seus gestos, consegue reproduzir as melodias, as entonações do rapper; traduz, pois, toda a aura sonora do show.
Em determinado momento da apresentação de sábado em Curitiba, Black Alien comentou dessa preocupação que tem em promover a inclusão, na música, de quem possui alguma dificuldade com um dos cinco sentidos.
A ideia de levar para o palco um intérprete de libras se viabilizou recentemente: Fabiano foi contratado em abril deste ano; em novembro, um videoclipe com tradução foi lançado por Black Alien. Em entrevista ao Uol Música, o artista falou sobre a iniciativa:
“A ideia inicial seria para as pessoas que não conseguem ver, então pensei em fazer um livro em braile. Depois, pensei nas pessoas com problemas de audição. Aí lembrei de um caso nos Estados Unidos que um cara foi assassinado pela polícia, porque ele não ouviu os policiais chamarem e eles acabaram atirando nele. Fiquei extremamente tocado com essa história e questionando: por que não coloco um tradutor nos meus shows? E aí fui me aprofundando nesse assunto, aprendendo. Desde o dia 1º de abril deste ano consegui contratar o Fabiano, e fiquei muito feliz. Os deficientes auditivos estão indo aos meus shows.”
Nestes dois vídeos – youtu.be/_vvdGmVuiQE e youtu.be/D26yDZnGb-Y – é possível conferir como é a atuação da dupla.
É ou não é fenomenal?
Por @waasantista, postado de Curitiba | Foto: @lindrielli