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Por que me causam repulsa os memes com a prisão de Garotinho

Wagner de Alcântara Aragão - nov 18 2016
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Os dois textos mais abaixo não são de minha autoria, mas representam com muita precisão aquilo que tenho pensado sobre a prisão do ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho.

Na verdade nem tanto sobre a prisão em si – mais da forma como vem sendo espetacularizada, sensacionalizada, explorada.

Ideologicamente não me simpatizo com Garotinho; tampouco ponho a mão no fogo por ele enquanto homem público.

Entretanto, Garotinho ainda não foi condenado, de modo que esse linchamento é, antes de tudo, ilegal. Ainda que já tivesse sido julgado, a lei estabelece penas civilizadas como instrumento de punição, não de vingança.

O tratamento que a mídia, em especial a Rede Globo, vem dando ao caso é típico de vingança.

Todos sabemos que Garotinho e Globo não são nem nunca foram aliados. Pelo contrário. Garotinho foi dos poucos políticos a falarem publicamente do processo que apura possível sonegação fiscal praticada pelo império empresarial dos Marinho.

(Sobre esse caso, saiba mais aqui)

 

 

Ao que parece Garotinho está a ser castigado não pelos acordos que fez, mas pelos que não fez.

  • (atualização em 21/11/2016) Antes de ser preso, Garotinho acusou Globo de receber R$ 2 bi do governo de Sérgio Cabral

Aos dois textos, pois, os quais assino embaixo:

 

“Prisão de Anthony Garotinho é grotesca e grave ao Estado de Direito

Por Brenno Tardelli, do Justificando

Imagine se fosse o Lula. Imagina se fosse o Aécio, Marina Silva ou Bolsonaro. Fosse a Luciana Genro ou seja lá qual político com o qual você se identifique. Ou então, se sua repulsa for absoluta, imagine, ainda, se fosse um amigo, uma amiga arrastada de maca aos berros à prisão.

Mas não precisa imaginar. Aconteceu com Anthony Garotinho, um pastor evangélico, envolvido historicamente em episódios políticos absurdos, como também em repressão a minorias. Foi uma pessoa que durante seu mandato se aproveitou enormemente do aparato policial e que caso fosse espectador de uma cena dessa envolvendo algum adversário seu, não duvido que comemoraria.

O ex-governador foi arrastado de maca, aos berros, para a prisão para a felicidade das câmeras estrategicamente colocadas para focar no melhor ângulo. Seu corpo foi servido à espetacularização da justiça e sua imagem está estampada em memes, notícias e comemorações pela internet.

Por ser impopular, tende-se a entender a prisão dele como merecida. O gozo de muitas pessoas absortas no prazer em ver a desgraça alheia seria justificável tendo em vista a figura política.

Não. Mil vezes não.

Justamente na prisão de “inimigos”, a humanidade é testada. Se não reconhecemos a dignidade em pessoas que não gozam de nossa empatia, por que raios esperaremos tratamento diferente quando formos nós mesmos os arrastados?

A prisão de Garotinho acontece em um contexto de uso de prisões preventivas, no uso da mídia pelo aparato policial, acusatório e judicial para trucidar o direito de defesa e inviabilizar a recuperação do indivíduo. Se fosse com o Lula, mídias progressistas estariam em choque com a violação ao Estado de Direito. Já as tradicionais não suportariam a cena de José Serra arrastado aos urros. Nada deveria mudar quando a figura política é um Anthony Garotinho.

Como se não bastasse, Garotinho não está condenado juridicamente a nada. Presunção de inocência deve contar algo em um país que se diz uma Democracia. Pena que ela está tão em baixa.”

—-

“Açular o ódio é o caminho do fascismo

Por Fernando Brito, do Tijolaço

Sérgio Cabral e Anthony Garotinho não me merecem respeito como políticos, até porque nenhum dos dois exerce, hoje, mandato eletivo, o que me daria motivos para ter respeito por seus eleitores.

Mas merecem como cidadãos e seres humanos.

Nenhum dos dois está condenado.

São presos provisórios, em tese para a garantia do processo judicial.

Como, em tese, pode ser libertados a qualquer momento por um habeas corpus.

Mas estão sendo escandalosamente utilizados como carne para açular a matilha em que desejam que se transforme a sociedade brasileira.

Mais cedo, coloca-se a circular nas redes sociais um vídeo onde Garotinho resiste a ordem de transferência para a penitenciária do leito hospitalar de onde se encontrava.

Tirar alguém de um hospital, ao que eu saiba, é decisão de médico, não de juiz.

Agora, Sérgio Cabral, anuncia-se, foi obrigado a raspar a cabeça.

Uma regra absurda adotada, aliás, no seu próprio Governo (2014), contestada pela Defensoria Pública, com razão, como ofensiva à dignidade do preso.

Aprendi com mãe e avó a não dizer “bem-feito” à injustiça com o injusto.

Orgulho-me de ter feito parte do governo de Leonel Brizola, que comeu o pão que o diabo amassou por ter proibido o “pé na porta” dos barracos sem mandato e o puxão pelos cabelos para que presos fossem fotografados pela imprensa sedenta.

Estamos transformando a vida brasileira – e os direitos das pessoas – num espetáculo de baixarias como estes programas de TV do tipo “mundo-cão”.

E isso sob as ordem de homens, em tese, de alto conhecimento de leis e direitos.

Todos com graduações, mestrados, doutorados e – isso os diviniza? – concursados.

As responsabilidades, amanhã, quando tivermos espancamentos, linchamentos, até mortes, será de quem?

Houve um tempo em que a Justiça era ponderada, discreta, moderada em decisões e atos.

Agora, vivemos a era do espalhafato, da humilhação, do salve-se quem puder espalhando culpas a torto e a direito.”

 

Postado por @waasantista, de Curitiba

 

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