Você já pensou em fazer turismo em um cemitério?

Brasil Observer - ago 02 2017
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Entrada do cemitério de Highate, em Londres. (Foto: Priscilla Castro)

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O Cemitério de Highgate, em Londres, recebeu mais de 85 mil visitas ano passado. Essa modalidade de turismo, conhecida como ‘cemiterial’, apesar de ainda soar estranho pra muitos, vem crescendo no mundo todo.

 

Por Priscilla Castro

Arquitetura, pessoas famosas, flores e muita história seriam adjetivos suficientes para despertar o interesse de um turista. Mas e quando isso vem acompanhado de cadáveres, tumbas e histórias mal assombradas? Você ainda assim visitaria esse lugar? Para muitos, esse é um tipo de passeio bem apreciado. Só em 2016, o Cemitério de Highgate recebeu mais de 85 mil visitas.

Localizado na parte norte de Londres, o Cemitério de St. James (nome oficial) aguça a curiosidade de muitos não só pelas extravagantes e belas tumbas, mas também pelos nomes famosos que foram enterrados ali. O túmulo mais visitado do cemitério é, sem dúvida, o do sociólogo Karl Marx, pai do comunismo. Logo no mapa que os voluntários distribuem na entrada do cemitério, é possível ver o destaque em vermelho para o lugar onde ele está enterrado com sua esposa e a governanta da casa, mãe de um dos filhos dele.

O túmulo é um dos maiores de todo o cemitério, com um busto de bronze, e a inscrição: “Os filósofos apenas interpretaram o mundo de várias maneiras. O objetivo, no entanto, é mudá-lo. ” Flores haviam sido colocadas na sepultura e uma entrevista estava acontecendo bem em frente a ela, prova de que esse é o ponto alto do passeio.

Túmulo de Karl Marx. (Foto: Priscilla Castro)

Túmulo de Karl Marx. (Foto: Priscilla Castro)

Mas esse não é o único túmulo que chama a atenção. Outros famosos também estão enterrados lá, como Douglas Adams, autor do Mochileiro das Galáxias; Adam Worth, conhecido como o Napoleão do Crime e inspiração para a criação de Moriarty, vilão da obra Sherlock Holmes. O cemitério é famoso também pela sua arquitetura egípcias, com os túmulos de John Galsworthy, George Eliot, Michael Faraday e Dante Gabriel Rossetti. O ex-agente secreto russo Alexander Litvinenko também está enterrado ali.

Além disso, vale muito a pena dar um passeio além dos marcos famosos, apreciando a forma e o desenho das tumbas, as inscrições comoventes em muitas delas e a natureza espalhada por todo o cemitério, com as belas flores enfeitando as sepulturas.

Para brasileiros, esse tipo de turismo, conhecido como “cemiterial”, pode parecer estranho e desinteressante, mas a prática vem crescendo não só na Europa, como também no Brasil. O Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro, por exemplo, é local de descanso de muitos brasileiros famosos, como Antônio Carlos Jobim e Carmem Miranda e, por isso, recebe visitas além das de parentes dos que ali estão enterrados.

Além disso, existe um site chamado “Find a Grave” (Ache um Túmulo), que funciona como uma espécie de Facebook para quem quer encontrar túmulos pelo mundo. O site tem cerca de 159 milhões de tumbas gravadas e as buscas superam os 50 mil por dia.

 

HISTÓRIA

O cemitério Highgate foi criado em 1839, depois que uma crise se instalou no setor funerário devido à superlotação nos cemitérios locais disponibilizados pela Igreja. Riscos de contaminação e doenças tornaram a situação ainda mais urgente e, então, o setor privado interviu e criou os “cemitérios jardins” pela cidade de Londres, inspirados no Pére La Chaise, em Paris – cemitério mais famoso do mundo.

O local foi consagrado pelo Bispo de Londres e fazia parte de um plano de criação de sete grandes cemitérios na periferia da cidade, projeto conhecido como “Os Sete Magníficos” (Magnificent Seven).

No entanto, os donos originais, a Companhia de Cemitérios de Londres, faliu em 1970 devido a um escândalo financeiro. Em 1975, um grupo de voluntários conhecido como ‘Friends of Highgate Cemetery Trust’, foi formado por moradores locais para tocar o cemitério.

De acordo com dados do próprio website do cemitério, o local recebeu pouco mais de 85 mil visitas em 2016, do quais 23 mil fizeram o tour guiado pela ala Oeste, representando um aumento de 8% no número de visitas em relação ao ano anterior. Já a renda gerada pelas visitas aumentou 9%, chegando a mais de 450 mil libras em 2016. O site conta com mais de 248 mil usuários e o grupo tem cerca de 100 voluntários trabalhando para manter o cemitério funcionando.

Cemitério de Highgate, em Londres. (Foto: Priscilla Castro)

Cemitério de Highgate, em Londres. (Foto: Priscilla Castro)

 

LENDA URBANA

O cemitério de Highgate ficou ainda mais conhecido depois que recebeu a fama de ser mal-assombrado. Curiosos passaram a vir de vários lugares do Reino Unido na tentativa de vivenciar as histórias relatadas ou capturar o “Vampiro de Highgate”, levando histeria à cidade de Londres em 1970.

Tudo começou no final dos anos 1960, quando alguns visitantes do cemitério disseram ter visto uma aparição entre os túmulos, o que trouxe relatos semelhantes à tona. Até que em 1970, três meninos descobriram o cadáver decapitado de uma mulher que tinha sido enterrada em 1926. A mídia divulgou, então, a história do “Vampiro Rei de Valáquia“, um nobre praticante de magia negra na região romena de Valáquia, que teria sido trazido para a Inglaterra em um caixão no século 19, e que estaria assombrando o cemitério.

Em março de 1970, uma multidão de pessoas invadiu o cemitério para caçar o vampiro, dando início a uma série de eventos peculiares no local, como exorcismos, prisões de caça-vampiros, filmes, cerimônias, entre outros. Em 1973, Sean Manchester, bispo da igreja católica, alegou ter localizado o vampiro em uma propriedade perto do cemitério, pondo fim à ameaça no cemitério.

Em 1980, outros casos aparentemente sobrenaturais foram relatados às autoridades e à mídia, como o aparecimento de animais mortos, e novamente Manchester alegou ter capturado e esfaqueado um novo vampiro.

Apesar dos inúmeros casos relatados, nada de concreto foi provado e há suspeitas de que as histórias a respeito dos vampiros foram plantadas por Bram Stoker, autor de “Drácula”, que em uma de suas histórias, se referiu ao cemitério de Highgate, como sendo o lugar de descanso de um dos discípulos do Conde Drácula.

 

Serviço

O cemitério é dividido em duas alas: East e West Highgate. O lado East pode ser visitado a qualquer hora durante o horário de funcionamento, pelo valor de 4 libras. Enquanto o lado West, apenas com tours guiados, no valor de 7 libras.

Como chegar

Metrô Archway (Zona 2, Northern Line)

Ônibus 210,143 ou 271

Horários

Segunda a sexta, das 10h às 16h30 (fecha às 17h)

Sábado e domingo, das 11h às 16h30 (fecha às 17h)