‘Jack, o Estripador’: uma volta no tempo para a Londres do século 19

Brasil Observer - ago 09 2017
maxresdefault
Viela em Whietchapel, Londres. (Foto: Viator.com)

(Read in English)

 

As opções de passeio sobre ‘Jack, o Estripador’ em Londres são uma verdadeira viagem no tempo para 1888, quando os brutais assassinatos apavoraram a população da capital inglesa

 

Por Priscilla Castro

Em 1888, Londres foi aterrorizada por um assassino em série que esquartejava mulheres pelas ruas do bairro Whitechapel. Tema de filmes, peças e livros, ‘Jack, o Estripador’ é um nome conhecido no mundo todo. Ódio, violência e agilidade personificaram um homem que, na verdade, nunca teve sua identidade descoberta. Até hoje, 129 anos depois, a história desperta curiosidade e interesse em muitos que visitam a capital da Inglaterra.

São várias as empresas que oferecem o passeio do ‘Jack, The Ripper’, cada uma com seu preço e roteiro específicos, mas todas com o mesmo objetivo: fazer uma viagem no tempo até 1888. A sensação durante as duas horas de caminhada e informações era de estar dentro de um filme, com direito a tomar uma cerveja no mesmo bar onde a última vítima foi vista viva, antes de ir para casa com o assassino.

Não pelo número de vítimas – baixo, se comparado a outros casos do tipo -, mas pelas circunstâncias dos crimes, muitos turistas procuram os tours que narram os assassinatos e a investigação policial na tentativa de vivenciar os acontecimentos da época. O que eu escolhi começava na estação de metrô Tower Hill, às 20h. No verão, ainda há luz do sol nesse horário, então o início da caminhada não é tão macabro quanto o final.

Ao fechar os olhos, pude ver as prostitutas da época, com seus vestidos e leques, caminhando pela exata rua onde eu estava, oferecendo serviços ou entrando em pubs. A verdade é que Whitechapel era uma das áreas mais pobres de Londres, com altos índices de roubo, violência e prostituição. Em outubro de 1888, a Scotland Yard estimou a presença de 1,2 mil garotas de programa e a existência de 62 bordeis na área.

Começamos a caminhar pelas ruas (hoje muito mais caras e chiques) do bairro rumo à primeira vítima. Em 31 de agosto de 1888, Mary Ann Nichols foi vista viva pela última vez sendo expulsa do pub The Chamberlain (que existe até hoje) por não ter dinheiro para pagar a conta. O mesmo bar cuja fachada eu via naquele exato momento.

2551339785_4fe67699f3_z

Segundo a nossa guia, ela saiu do bar afirmando que iria arrumar um homem e voltaria com dinheiro. No dia seguinte, a polícia encontrou o corpo, com um corte tão profundo na garganta que quase a decapitou. Como na época a violência contra prostitutas era algo “comum”, o caso não ganhou grande repercussão e a vida seguiu.

Passamos pela segunda, terceira e quarta vítimas, e eu continuava me imaginando num vestido de época, desviando dos bêbados que saíam dos pubs e das pessoas estranhas que cruzavam meu caminho, enquanto, na realidade, estava em 2017, com outras 40 pessoas e uma guia fazendo um trabalho sensacional em nos levar de volta no tempo.

 

FORTALECENDO O INIMIGO

A cada novo crime, Jack ia intensificando a violência cometida. Não bastava mais apenas cortar a garganta das vítimas, então ele passou a “dividi-las” ao meio, cortando desde o pescoço, passando pelo tronco, umbigo, gênitas e terminando cóccix. As vítimas eram quase sempre encontradas sem calcinha, com as pernas abertas, a saia levantada, sem o rim esquerdo e sem parte do útero. Horror é pouco!

Percorremos várias ruelas, passamos pelas “pensões” (Doss Houses) onde as prostitutas dormiam quando conseguiam dinheiro e por vários pubs onde elas costumavam beber, por prédios que foram bombardeados na Segunda Guerra e reconstruídos e também por prédios que estão lá desde a época, com entradas separadas para homens e para mulheres.

Quando o tour já estava para terminar, paramos em frente ao pub The Ten Bells. E foi lá que, não só o tour, mas também o que se sabe da história da Jack terminou. Foi lá que ele conheceu Mary Jane Kelly, sua última e mais brutal vítima. Diferente dos outros casos, o corpo de Mary Jane foi encontrado em casa pelo proprietário do apartamento que ela alugava.

Enquanto a guia descrevia a cena, eu me afastava um pouco do grupo para ver mais de perto o pub em que tudo tinha começado e, também, porque o relato estava macabro demais. Em poucas palavras, a cabeça de Mary estava apoiada sobre seus dois rins, o rosto e o corpo estavam totalmente multilados, a pele havia sido toda cortada e estava empilhada em diferentes partes do quarto, e o coração dela estava cozinhando em uma panela na cozinha.

Depois desse dia, nunca mais se ouviu falar em Jack The Ripper em Londres. Nenhum crime parecido foi cometido novamente na cidade durante aquela época.

Ainda havia fotos de todas as vítimas na bolsa da guia, mas eu preferi me poupar porque estava mesmo interessada em ver o tal do Pub. Ao fim do passeio, fui lá desafiar o perigo e tomar uma cerveja. Nada aconteceu! Londres está segura, enfim.

jack-the-ripper-tour

CURIOSIDADES

1- Muitos homens foram interrogados como suspeitos do crime, mas o fato é que, até hoje, ninguém descobriu de fato quem foi o Jack, o estripador. Mesmo décadas depois, gerações de detetives analisaram fatos e documentos na esperança de descobrir algo novo, mas em vão. Até o FBI, dos Estados Unidos, entrou na corrida, mas sem sucesso

2- O codinome “Jack The Ripper” ficou famoso após a polícia receber uma carta assinada como “Jack The Ripper”, que dizia ser o assassino. Descobriu-se, no entanto, que o texto havia sido escrito por um jornalista, que queria ganhar a manchete da primeira página com a informação.

3- Uma das teorias a respeito da identidade do assassino acredita que a Rainha Vitória foi a mandante de todos os crimes para assassinar as cinco melhores amigas de uma prostituta que havia ficado grávida de seu neto, Príncipe Alberto e, assim, evitar o escândalo.