Estudantes e pesquisadores do Brazil Institute e da Dickson Poon School of Law do King’s College London realizaram em junho o simpósio Brazil, What’s Next? – From the Turmoil to the Near Future para explorar o que o futuro reserva para o país, rodeado por desafios e oportunidades.
Em meio à realização dos Jogos Olímpicos Rio 2016, o Brasil enfrenta profunda recessão econômica com elevado desemprego; instabilidade política com um processo de impeachment em andamento e um governo interino; investigações de casos de corrupção de larga escala; violência urbana e rural; e um surto de vírus Zika, entre outras questões. O simpósio de três dias reuniu acadêmicos para discutir a atual situação do país e as perspectivas para o futuro próximo, incluindo desafios para democracia, direitos humanos, cultura, desenvolvimento e economia.
O simpósio foi aberto com uma sessão do filme Retratos de Identificação, de Anita Leandro, um documentário sobre as fotos de identificação tiradas pela polícia depois da prisão de guerrilheiros durante a ditadura militar.
Os dois dias seguintes tiveram oito painéis apresentados por mais de 20 estudantes, pesquisadores e especialistas, inclusive de universidades da Alemanha e da Espanha. Recebidos pelo professor Anthony Pereira, diretor do King’s Brazil Institute, os convidados especiais incluíram o professor Maurício Dieter, da Universidade de São Paulo, a jornalista Jan Rocha, ex-correspondente da BBC e do Guardian no Brasil, a professora Carolina Matos, da City University London, e o economista Marcos Felipe Casarin, diretor de América Latina da organização Oxford Economics.
O Embaixador do Brasil no Reino Unido, Eduardo dos Santos, abriu a sessão Democracy & Human Rights, comandada pelo doutor Octavio Ferraz, da Dickson Poon School of Law, seguido pelo deputado federal e ativista pelos direitos humanos Jean Wyllys, que veio do Brasil especialmente para o evento (leia entrevista com ele na página 10).
O Brasil Observer acompanhou os dois principais debates e concluiu, em primeiro lugar, que o King’s Brazil Institute tem feito um excelente trabalho em aprofundar o conhecimento sobre o país no Reino Unido. Em relação às discussões realizadas, é justo dizer que o Brasil tem um longo caminho pela frente para se tornar uma democracia consolidada.
É verdade que o Brasil nunca havia experimentado um período tão longo de democracia como agora. O fim da ditadura militar (1964-85), porém, não eliminou os vícios autoritários do Estado brasileiro. Por isso podemos concluir que deixamos uma ditadura autoritária para entrar em uma democracia autoritária, como alguns dos convidados afirmaram durante o simpósio. Para mudar isso, o Brasil precisa enfrentar o problema da desigualdade que afeta todos os aspectos da vida dos brasileiros, desde as oportunidades econômicas e de ensino até a democratização dos meios de comunicação e a operação da Justiça e seu aparato de segurança.
Do ponto de vista econômico, há consenso de que no curto prazo o Brasil precisa equilibrar suas contas para reduzir sua dívida, mas seria uma ilusão achar que o país pode alcançar um desenvolvimento mais sustentável sem realizar uma reforma progressiva do sistema tributário, por exemplo, assim como uma auditoria cidadã da dívida pública.
O que vem a seguir, afinal? É difícil prever qualquer melhora significativa sem uma reforma política que faça o Congresso brasileiro representar o que a sociedade brasileira realmente é. Ainda não é este o caso.