Tudo ficará pronto para a primeira Olimpíada na América do Sul. Mas o clima da cidade ainda não é dos melhores
Por Rosa Bittencourt – do Rio de Janeiro
A menos de três meses dos Jogos Olímpicos, o Rio de Janeiro acerta os últimos detalhes para receber o maior evento esportivo da terra, que no dia 5 de agosto desembarca em território sul-americano pela primeira vez na história. O clima, porém, não é dos melhores. Quase todas as instalações esportivas onde 15 mil atletas irão competir estão prontas, mas uma longa lista de problemas, somada à instabilidade política e econômica do país, faz com que os sentimentos estejam divididos.
As preocupações vão desde os riscos relacionados aos vírus zika até o trânsito caótico da cidade, passando ainda pela questão da segurança.
O Rio espera receber 800 mil turistas durante os Jogos Olímpicos (5 a 21 de agosto) e Paralímpicos (7 a 18 de setembro). Com representantes de mais de 200 países, a capital fluminense pode ser alvo de atentados terroristas. A crise política e econômica também pode gerar protestos contra a realização dos Jogos. Para isso, mais de 67 mil policiais, incluindo quase todo o efetivo do Estado, o Batalhão de Policiamento de Grandes Eventos, a Polícia Federal e o Exército, estarão de prontidão.
Em relação à mobilidade urbana, dois grandes projetos ainda não foram entregues: o BRT Transolímpica e a linha 4 do metrô, que vai ligar a área turística da cidade à Barra da Tijuca, o principal palco das competições. Há muito trabalho a ser feito, mas tanto a prefeitura do Rio (responsável pelo sistema rápido de ônibus) quanto o governo do estado (responsável pelo transporte subterrâneo) afirmam que os dois novos serviços estarão prontos a um mês dos jogos, em julho – o que preocupa os especialistas, pois haverá pouco tempo para a realização dos testes necessários.
Outro projeto inacabado é a tão sonhada despoluição da Baía de Guanabara (palco das competições de vela) e da Lagoa Rodrigo de Freitas (remo). Uma frustração para ambientalistas, atletas, moradores e turistas, que esperavam pela despoluição como legado olímpico.
Além disso, dois episódios recentes jogaram um balde de água fria nos ânimos olímpicos. Um trecho da mais famosa ciclovia do Rio, construída sobre o mar e promovida como parte do legado olímpico, desmoronou após o impacto de uma onda gigante. Pelo menos duas pessoas morreram, colocando em evidência a negligência de uma construtora que gerencia outras instalações olímpicas. Aliás, foi confirmado que nove pessoas já morreram durante a construção de obras para os Jogos – e a principal causa apontada pela Superintendência Regional do Trabalho é a pressa na execução dessas obras. Durante a Copa do Mundo, realizada em 12 cidades-sede, oito operários morreram, enquanto que durante a preparação dos Jogos Olímpicos de Londres não houve morte alguma.
As críticas às obras vão além. Remetem a uma política de gentrificação, como na área onde está o Porto Maravilha, que se transformou num cartão postal depois das obras de revitalização do Museu do Amanhã e do Museu de Arte do Rio. Por ali, muitos moradores acabaram sendo removidos para regiões distantes do centro do Rio. O mesmo aconteceu com moradores da Vila Autódromo, ao lado do Parque Olímpico.
NA HORA DA FESTA
A expectativa dos organizadores é de que, quando a chama olímpica for acesa, os problemas serão deixados que os cariocas, ao lado de turistas brasileiros e estrangeiros, terão uma experiência inesquecível – como aconteceu na Copa do Mundo, apesar dos 7 a 1. Isso mesmo que, até agora, menos da metade dos ingressos tenha sido comercializada.
O turista que pisar no Rio de Janeiro durante os Jogos vai encontrar, com certeza, uma cidade que é um brinde para os olhos. As praias – algumas poluídas (Flamengo, Botafogo, Urca, São Conrado, Rocinha), outras isoladas, limpas e paradisíacas (Grumari, Prainha) – são de impressionar qualquer mortal. E há muitas outras atrações turísticas obrigatórias: o Morro do Corcovado, onde reina absoluto o Cristo Redentor de braços abertos sobre a Baía da Guanabara, o Pão de Açúcar, a Lagoa Rodrigo de Freitas, o Jardim Botânico, o Morro Dois Irmãos, a Floresta da Tijuca…
Quem quer ir além do roteiro básico, o centro do Rio oferece museus e espaços culturais em antigos casarões dos períodos colonial, imperial e republicano. Vale a pena dedicar de dois a cinco dias para conhecer a história da cidade, que no ano passado completou 450 anos. É também na região central que está o VLT (veículo leve sobre trilhos), que vai transportar cariocas e turistas do Aeroporto Santos Dumont até a Rodoviária Novo Rio, passando pela famosa Avenida Rio Branco, parcialmente transformada num calçadão com jardins, contornando o Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio. E perto do centro, na Lapa, está a boemia da cidade. Lá tem um bar grudado no outro, onde músicos e bailarinos fazem a alegria de turistas de todos os cantos do mundo.
É provável que, assim como aconteceu na Copa do Mundo de 2014, o mundo se encante com o Brasil durante os Jogos Rio 2016. Vale apostar que será um grande Carnaval, só que dessa vez olímpico. Na quarta-feira de cinzas é que saberemos se foi tudo uma grande ilusão ou não.
Casa Grã-Bretanha ocupará o Parque Lage
Um dos aspectos mais interessantes dos Jogos Olímpicos são as casas dos países participantes, que funcionam como ponto de encontro para atletas e torcedores de todas as nacionalidades. Uma tradição nos Jogos, essas casas são o local onde os atletas comemoram suas vitórias, além de oferecerem diversas atrações culturais durante a competição.
Em Londres 2012, o Brasil ocupou a Somerset House, que recebeu exposições e diversos shows de música. Na Rio 2016, a Grã-Bretanha vai ocupar o Parque Lage, localizado aos pés do morro do Corcovado.
Ao mesmo tempo em que a Casa Grã-Bretanha será um segundo lar para os atletas do Team GB, seus amigos e familiares, ela também irá promover o país como líder mundial em negócios e inovações, oferecendo um programa sobre esportes, cultura, educação e eventos B2B.