À mesa com Jeremy Corbyn

Brasil Observer - mai 10 2016
Nota A
Foto: Ana Toledo

(Read in English)

 

Por Guilherme Reis

O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, participou no dia 30 de abril de um evento da comunidade latina em Londres, no restaurante El Vergel, na região de Southwark. Após um discurso de aproximadamente 25 minutos, ele conversou por quase meia hora com um grupo de ativistas brasileiros que tem organizado, na capital inglesa, demonstrações contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

O evento foi organizado pelo Momentum Latino, um dos 120 grupos Momentum criados no Reino Unido na esteira da campanha de Jeremy Corbyn à liderança do Partido Trabalhista, no ano passado. Além da participação de Corbyn, contou ainda com apresentações musicais e discursos de ativistas do Brasil, Colômbia, Chile, Equador e Reino Unido.

Em um ambiente bastante familiar e repleto de crianças (com workshops direcionados para elas), ficou bastante claro o carinho de todos que lá estavam por Jeremy Corbyn. O líder trabalhista é casado com uma mulher mexicana, Laura Alvarez, e arranha no espanhol. E sempre manteve laços com exilados latino-americanos, tendo inclusive participado ativamente do episódio que culminou na prisão do ex-ditador chileno Augusto Pinochet em Londres, no dia 16 de outubro de 1998.

No ponto alto de seu discurso, Jeremy Corbyn disse: “Quando se oferece às pessoas a oportunidade de se ter esperança, a oportunidade de se construir algo em conjunto, a oportunidade de se ter um mundo baseado em justiça em vez de desigualdade, elas esquecem suas diferenças e se unem. Os tempos estão mudando. Quero nos próximos quatro anos trabalhar com o espírito do internacionalismo, com o espírito de reunir as pessoas em torno de um objetivo comum, com o espírito de solidariedade com aqueles ao redor do mundo que estão passando por momentos difíceis, seja na Venezuela, no Brasil, na Bolívia, no Chile, na Argentina ou em muitas partes da África. É assim que conseguimos fazer a diferença”.

Em seguida, Corbyn elogiou a comunidade latino-americana: “A comunidade latino-america trabalha duro, muitas vezes sendo explorada por patrões inescrupulosos, e sempre se mantém unida. É um exemplo”.

Foto: Ana Toledo

Foto: Ana Toledo

Após seu discurso, o líder do partido trabalhista sentou-se à mesa com um grupo de ativistas brasileiros para falar sobre o momento atual do Brasil. Victor Fraga comandou a conversa, ao lado de Nara Filippon, Anna Maria Forsberg, Luciana Pontual, Michelle Portela e Carolina Paes.

Corbyn disse que não está por dentro de tudo que se passa no Brasil, mas que tem se preocupado com algumas questões que lê sobre o país. “Uma delas é que os níveis de injustiça e corrupção são contínuos. A outra é o poder da mídia e a forma como a presidente Dilma tem sido crucificada”.

Com uma caderneta na mão e anotando o que ouvia, Corbyn se comprometeu a fazer um pronunciamento sobre o processo de impeachment no Brasil depois que tivesse mais informações a respeito. Foi esse o principal pedido feito pelo grupo de ativistas brasileiros.

Durante a conversa, o líder trabalhista contou que a primeira vez que visitou o Brasil foi em 1969, em plena ditadura militar. “Em São Paulo, quando os militares estavam fazendo manobras contra a população, eu estava lá nas manifestações, participei das marchas. Eu sei o que estava acontecendo”. Aquela viagem pelo país, aliás, começou na capital do Pará. “Primeiro fui a Belém e de lá fui pela estrada até Brasília, depois Rio de Janeiro, São Paulo, Campo Grande até chegar ao Paraguai. Faz tempo, eu sei, mas o que mais me impressionou foi a beleza e a injustiça”.

Corbyn disse ainda que voltou ao Brasil outras vezes e que reconhece os problemas do país, inclusive as forças políticas que atuaram ao lado do regime militar – e que ainda hoje estão no meio político nacional.