Shaun Alexander começa sua nova coluna no jornal Brasil Observer explorando os arredores de Manaus
Quando não estou editando o lado em inglês deste jornal, tenho aproveitado uma nova paixão: viajar pelo Brasil. O Brasil que eu conheci nos últimos dez anos é basicamente aquele do canto sudeste, mas o que mais me fascina neste país é sua imensa, caótica e bela diversidade. Há muito mais a explorar. Por isso, desafiado pelos fundadores do Brasil Observer a descobrir as maravilhas brasileiras, é exatamente isto que proponho aqui.
Todo mês, vou a um novo canto do Brasil para compartilhar minhas experiências com vocês. As fotos que ilustram esta coluna também estão em minha conta no instagram (@shaunalex) e, em breve, lançarei uma conta específica no YouTube, Um escocês no Brasil.
A primeira parada é um lugar que eu sempre sonhei visitar, antes mesmo de saber que ficava no Brasil: a Floresta Amazônica. Fascinado pela natureza e seguidor de pessoas como David Attenborough desde que aprendi a andar (os colegas de escola me chamava de ‘nature boy’), a Amazônia sempre esteve no alto da minha lista de lugares a conhecer. Mas é um lugar difícil de chegar, não importa o lugar do mundo em que você esteja, até mesmo no Brasil. Esta viagem nos daria apenas um gostinho dessa imensa região, por isso decidimos ir direito ao centro: Manaus, capital do Estado do Amazonas.
Ficamos hospedados a 20 minutos de carro do centro, em um enorme hotel colonial à margem do Rio Negro chamado Tropical Hotel. Como se tratava de uma viagem curta, decidimos fazer pequenas viagens de um dia. A primeira envolveu um trajeto de barco subindo o Rio Negro, para visitarmos uma aldeia indígena que fica a cerca de 30 km de Manaus.
Na verdade, a aldeia abriga famílias de diferentes tribos que vivem em uma realidade dividida entre a cultura indígena tradicional e o Brasil moderno. A aldeia é real, mas o modo de vida não é como se apresenta. São índios modernos, todas as crianças pegam barcos para a escola onde aprendem português, e muitos aspectos da vida tradicional deles estão perdidos. Estando tão perto de uma cidade como Manaus, é algo inevitável. Ainda assim, é lindo ver que eles conseguem manter algumas tradições vivas. Todos são muito receptivos e eu amei conhecê-los.
BOTOS-COR-DE-ROSA
Saindo da aldeia, nosso barco nos levou para o outro lado do rio, onde nadamos com os lendários botos-cor-de-rosa. Ainda que totalmente selvagens, eles são acostumados com os guias que os alimentam com a mão, em um local onde os turistas podem se aproximar e brincar com esses animais incríveis. Eles nadam debaixo de seus pés e dão saltos para agarrar alguns peixes das mãos dos guias, que conhecem a maioria dos animais individualmente. É uma experiência imperdível.
A última parada do barco nos apresentou o Encontro das Águas, onde o Rio Amazonas oficialmente começa. Achei a mudança de temperatura entre as águas (Rio Negro é bem quente e o Rio Solimões, mais frio) fascinante.
Além disso, demos uma curta caminhada por uma reserva natural e almoçamos em um restaurante flutuante. Preciso dizer, aliás: a comida da região é única. Se você gosta de peixe, a Amazônia é o paraíso. Eu experimentei literalmente um tipo diferente de peixe por dia, e cada um com um preparo especial. As frutas e vegetais locais – exóticos e numerosos demais para listar – também são deliciosos, sem contar as mais variadas formas de se preparar uma tapioca.
Outra viagem de um dia foi à cidade de Presidente Figueiredo, a cerca de 100 km de Manaus. Lá existem centenas de cachoeiras no meio da floresta – tivemos tempo de visitar três. Se você for à Amazônia e estiver com dificuldade para lidar com o calor e a umidade, é o lugar certo, pois as águas são frias como o gelo. Um mergulho em qualquer uma das cachoeiras dá uma sensação revigorante.
Não tive muito tempo para explorar Manaus em detalhe, mas caminhei pelo Mercado Municipal e visitei seu mundialmente famoso teatro, com seu design estonteante.
Quatro dias não é tempo suficiente para conhecer Manaus, nem se fale na Amazônia como um todo. O que eu tive foi um aperitivo que deixou sabor de quero mais. Quero aprender mais sobre essa incrível floresta, seus animais e o grande corpo d’água que a corta. É possível ficar em hotéis remotos no meio da floresta com toda a infraestrutura necessária para se isolar do mundo com todo o conforto, o que parece perfeito. Descobri que a Floresta Amazônica engloba vários Estados, então terei de pensar onde será minha próxima parada. Dito isso, também tenho mais a aprender sobre Manaus.
Um ponto alto da viagem para mim foi caminhar até a praia da Ponte do Rio Negro no final das tardes, nadar em suas águas quentes e observar o por do sol e os trovões mais intensos que eu já vi e ouvi. Se você tem alguma dica de viagem para mim, entre em contato pelas redes sociais.