Explicando a um inglês por que protestam contra o impeachment

Brasil Observer - abr 11 2016
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Foto: Ana Luisa

(Read in English)

 

Por Guilherme Reis

Sentado em cima de uma bike do Boris, na praça em frente à Embaixada do Brasil em Londres, observava o desenrolar da manifestação de brasileiros contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, àquela altura animada pelo violão cadenciado de Gui Tavares, que dedilhava os acordes de “Construção”, de Chico Buarque, quando fui surpreendido por um inglês que retirava, atrás de mim, seu meio de transporte do locker:

– Sobre o que se trata este protesto?

– É contra o processo de impeachment da presidente do Brasil.

– Vocês estão apoiando um governo claramente corrupto? É sério? – ele me indagou com um tom levemente elevado, ainda que educadamente, o que me fez levantar disposto a um papo entre opiniões opostas.

– Nem todos aqui apoiam o governo. Particularmente tenho muitas críticas. Quem está aqui é contra o impeachment, a favor da democracia.

– E você acha que a indicação de Lula para um ministério foi um ato democrático? Eu acho que não, foi um ato bastante autoritário.

– Concordo. Também achei errado. Mas democracia é processo. Nossa democracia é muito jovem. Romper esse processo com um impeachment sem prova cabal de crime contra a presidente eleita me parece perigoso.

– Mas esse governo é corrupto, muito ruim pra economia. O dólar disparou. As contas estão fora do lugar, com uma dívida muito grande.

– O governo é péssimo, mas impeachment não é solução para governo ruim. Temos eleições regulares para isso. A decisão deve ser no voto.

– Sim… O Fernando Henrique Cardoso foi um grande presidente, fez muitas coisas importantes para o país. Agora a economia está muito mal.

– Verdade. Ele fez coisas importantes. Lula também mudou o país.

– Mas ele fez isso porque o Cardoso tinha preparado tudo antes. Ele seguiu o que já estava dando certo e o país se beneficiou muito disso.

– Sim. E ele colocou em prática coisas novas também, uma política social mais elaborada, uma política externa independente…

– As camadas mais pobres, né? Eu acho que o Norte e o Nordeste têm um peso desproporcional. Eles acabam recebendo muito mais.

– O que você quer dizer com isso?

– Eu amo o Brasil. Faço negócios no Brasil há 20 anos.

– Interessante. Não é fácil fazer negócios lá, isso é um fato.

– Pois é. Você viu as reações no mercado? Estão animados com a possibilidade de mudança de governo no Brasil. Eles querem mudança.

– Sim. O mercado sempre está do lado da direita. Não é novidade.

– É (risos). Preciso ir. Obrigado pelo debate.

– Eu que agradeço. Acho que está faltando esse tipo de diálogo no Brasil.

– Boa tarde.

– Boa tarde.

A manifestação contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff aconteceu na quinta-feira dia 31 de março. Organizado através das redes sociais, contou com aproximadamente 150 pessoas. Além de Londres, demonstrações ocorrerem em outras capitais e cidades europeias, como Berlim, Paris, Lisboa, Coimbra e Barcelona, além de mais de 60 cidades no Brasil. Em março do ano passado, daquela vez em apoio às manifestações a favor do impeachment que começavam no Brasil, brasileiros também se reuniram em frente à embaixada em Londres. Em ambos os casos, não houve tumulto e tudo aconteceu de forma pacífica.