Pronto. As cartas estão na mesa. O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, autorizou na quarta-feira dia 2 de dezembro a abertura do processo de impeachment da presidente do Brasil, Dilma Rousseff.
Boa parte do país, vale dizer, comemorou como se fosse um gol. Assistimos, afinal, a um espetáculo trágico que se arrasta desde o início do ano, e que parece ter como objetivo impossibilitar que o país consiga superar os problemas mais urgentes: contas públicas deficitárias, desemprego crescente, inflação galopante, recessão econômica…
De quem é a culpa? O vilão favorito é Eduardo Cunha, claro, a representar o que de pior existe na política brasileira – aceitou o pedido de impeachment para desviar o foco da Comissão de Ética que pode lhe cassar o mandato. Ou seria a própria Dilma, a grande vilã? Não importa. Assim como não importa definir se a situação configura ou não um golpe. Urgente é constatar que nosso sistema político se desintegra ladeira a baixo, sem sinal de recuperação enquanto não se criar um consenso mínimo no Congresso Nacional. Tempos de oportunismo e insensatez.
Os erros do governo Dilma e do PT são inumeráveis – e, em última instância, principais indutores da crise pela qual passa o país. No poder, portaram-se como os demais e traíram não apenas o movimento progressista que ainda julgam representar, mas a esperança de construção de uma democracia social em um país deformado por séculos de desigualdade. Avançou-se, e muito, na última década. Mas a negação da política como meio de confrontar paradigmas e construir linhas de passagem para um novo ciclo de desenvolvimento fez com que o projeto petista se esgotasse – apesar da vitória de Dilma em outubro de 2014.
Ao prometer o impossível na campanha eleitoral e esconder da população os desafios que o país enfrentaria nesta transição de ciclo, Dilma e o PT perderam o capital político necessário para continuar mudando a realidade brasileira. Ao adotar o discurso derrotado nas urnas, perderam apoio popular e incitaram a oposição mais retrógrada a sair do armário. Criaram, enfim, as condições para que se debatesse abertamente, e diariamente, o impeachment da presidente eleita. Trata-se, afinal, de um processo político.
E da oposição, o que dizer? É irônico constatar que, da Argentina e da Venezuela, países normalmente ridicularizados pelos partidos mais conservadores, venha a principal lição. Naqueles países, os governos “progressistas” de Christina Kirchner e Nicolas Maduro acabam de sofrer derrotas eleitorais. Ou seja, é possível vencer nas urnas – isso é democracia. No Brasil, porém, alas contrárias ao governo Dilma querem pegar um atalho, inclusive dentro do PSDB, principal partido de oposição, que sempre se julgou tão republicano. Mas por que isso acontece?
Quatro derrotas seguidas nas urnas podem ser uma das explicações. O PSDB há tempos tem se mostrado incapaz de produzir um projeto de país compatível com o que espera a maioria da população brasileira. Tal incompetência em superar o PT nas urnas também é um dos fatores que nos fizeram chegar ao atual momento de crise política e econômica.
Sobre o PMDB, não resta muito a falar. Trata-se do partido infiel da balança: seguirá quem estiver no poder e pronto, nada mais importa.
É preciso, porém, confiar no Brasil. É preciso acreditar nos brasileiros, em nós, por mais que o pessimismo seja hoje dominante. As ocupações de escolas públicas por adolescentes na cidade de São Paulo é um dos motivos de esperança, apesar da narrativa dominante tratá-los como invasores (leia na seção Conectando). Precisamos, afinal, desenvolver nossa democracia através da participação da sociedade civil. Precisamos combater a despolitização que serve apenas aos políticos de gabinete, intocados no Congresso, nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras Municipais. Politizar a política, e resgatar a soberania da população.
Isso também vale aos empresários, por que não? Conquistas sociais são a contrapartida indissociável de vendas, lucros e investimentos. Uma sociedade mais igualitária é fundamental para bons negócios.
Seja como for, o Brasil Observer deseja aos leitores um feliz Natal e um próspero Ano Novo! Nos encontramos de novo na edição de fevereiro.
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