O papel do BRICS

brasilobserver - mai 15 2015
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Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

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Evento do Global Diplomatic Forum reuniu em Londres, no final de abril, altos funcionários e um acadêmico para debaterem o papel evolutivo do BRICS (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em um cenário internacional em mutação.

Participaram Obed Mlaba, Alto Comissário da África do Sul em Londres; Virander Paul, Vice-Alto Comissário da Índia em Londres; Alexander Kramarenko, Vice-Embaixador da Rússia em Londres; Alexandre Parola, Ministro-Conselheiro da Embaixada do Brasil em Londres; e Jan Knoerich, Professor de Economia Chinesa no King’s College. Younes El-Ghazi, Executivo-Chefe do Global Diplomatic Forum, conduziu a conversa com perguntas e participação do público.

De forma geral, todos fizeram questão de salientar, logo no princípio, que o BRICS não é um grupo contra hegemônico. Ou seja, não é a intenção dos países membros criar mecanismos que substituam o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional – instituições criadas após o chamado Acordo de Bretton Woods, que na prática deslocou o controle da economia mundial para os Estados Unidos, depois da Segunda Guerra. A ideia é criar formas complementares de governança global – principalmente com o Novo Banco de Desenvolvimento, ou simplesmente Banco do BRICS, criado no ano passado durante a sexta reunião de cúpula do grupo, no Brasil.

“Não somos uma aliança no significado tradicional da palavra. Não estamos em uma guerra contra outras nações. É uma questão de desenvolvimento econômico, de promover os interesses nacionais dos países membros”, afirmou Alexander Kramarenko. A mesma linha foi seguida por Alexandre Parola, que adicionou: “A imprensa geralmente nos retrata como um grupo contra hegemônico, mas não é verdade. Não somos contrários a ninguém, somos a favor de nós mesmos”.

Mas e a China? Qual é o interesse chinês? Para Jan Knoerich, que, vale lembrar, não estava representando a posição oficial do país, o ponto central do interesse chinês é a alta demanda por investimentos em infraestrutura nos países membros e nas regiões em que eles estão inseridos. “A China tem a expertise necessária e precisa do BRICS para aumentar sua influência em outros fóruns”, opinou Knoerich. “Mas a ideia é suplementar, não substituir. É mais eficiente reformular a o sistema atual do que criar algo novo”, completou.

Nesse sentido, Obed Mlaba lembrou que o plano do Banco do BRICS não é financiar apenas projetos de infraestrutura dos países membros, mas também de outros países emergentes. “Há muitas oportunidades na África. De norte a sul, de leste a oeste, o continente africano não está conectado. Há uma demanda enorme em infraestrutura, para que os países façam negócios entre si”, apontou.

Em seguida, os palestrantes ressaltaram que não há impedimentos para que um país membro feche acordos bilaterais com outras nações. Neste momento, ficou evidente que a percepção geral é de que o atual sistema global é insuficiente para promover os avanços necessários para as populações dos países emergentes. “A austeridade do Ocidente não traz desenvolvimento”, afirmou Alexander Kramarenko. Para Virander Paul, “o simples fato de o grupo do BRICS ter sido criado é a prova de que o mundo mudou”.

Perto do encerramento do debate, um membro da plateia perguntou se a Parceria Transpacífica (TPP, na sigla em inglês), entre os Estados Unidos e outros 11 países, inclusive o Japão, pode afetar as ambições econômicas do BRICS. Diante do fato de que a tal parceria não foi ainda acordada, ninguém pareceu disposto a fazer suposições. Mas Alexandre Parola aproveitou o gancho para fazer uma reflexão que certamente resume o que está em jogo. Disse ele que o mundo do século 21 é pós-hegemônico, não mais centralizado em uma ou duas super potências. A própria ideia de cooperação Sul-Sul nada mais é do que uma forma de quebrar a centralização político-econômica, ou seja, não é preciso intermediários quando se trata de dois países da mesma região – ou com os mesmos desafios – fazendo acordos; é uma questão de decidir interesses em comum de forma soberana.

Nessa perspectiva, o papel do BRICS parece ser contribuir para um mundo que caminha rumo a uma ordem multipolar, onde a atuação dos países não será mais em blocos, mas em redes interconectadas. Sairá na frente quem conseguir atuar e exercer influência no maior número de redes possível, nos mais variados temas de interesse.

BRASIL OBSERVER – EDIÇÃO 27

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