Eliane Elias: ‘Prefiro o silêncio… Dele nascem minhas ideias’

brasilobserver - abr 14 2015
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Foto: Philippe Soloman

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Após o lançamento de seu 25º disco, cantora, compositora e pianista brasileira se prepara para apresentação única no Barbican e conversa com o Brasil Observer sobre sua música

 

O estilo musical de Eliane Elias combina suas raízes brasileiras e voz sensual com Jazz instrumental e composição clássica. É dessa forma que o Barbican anuncia o show que a cantora, compositora e pianista nascida em São Paulo fará na famosa casa de Londres, dia 4 de maio.

Mistura. E que mistura. O talento musical de Eliane Elias aflorou logo cedo. Aos sete anos, começou a estudar piano e, aos doze, já tirava solos de grandes mestres do Jazz. Passou a ensinar com apenas quinze e daí foi um pulo, pois iniciou sua carreira no Brasil aos dezessete, trabalhando com o cantor e compositor Toquinho e com o poeta Vinícius de Morais. Em 1981, o grande turning point: se mudou para Nova York, onde vive até hoje a colecionar histórias e prêmios graças a uma trajetória musical aclamada e de sucesso internacional.

Ao todo, Eliane Elias já gravou 25 discos. O mais recente deles, lançado no final de março, foi batizado de Made in Brazil. Não à toa. Afinal, foi a primeira vez que Eliane fez boa parte da gravação no país em que nasceu. O que não significa, porém, que não haja um decisivo toque global em sua nova obra. Até o histórico Abbey Road Studios, em Londres, testemunhou o desenvolvimento do álbum.

Em entrevista concedida ao Brasil Observer, Eliane Elias fala sobre seu novo trabalho, da mistura de influências presente em sua música e revela o fator determinante para seu processo criativo: o silêncio.

Mesmo estando há tanto tempo fora do Brasil, como é desenvolver um trabalho tão ligado à cultura brasileira?

Muitos dos meus discos incluem música Brasileira. Nossa música é parte do meu DNA. Não importa onde, minhas raízes permanecem.

Muitas premiações e indicações fizeram seu público no exterior crescer. Como isso influenciou sua carreira no Brasil?

Os prêmios são uma parte do reconhecimento de uma carreira. Nem sempre refletem o sucesso de um artista. Eu me sinto orgulhosa por ter uma carreira internacional há tantos anos, fazendo concertos pelo mundo inteiro e alcançando o topo dos charts de Jazz com todos os meus discos. Quanto ao Brasil, não sei explicar o porquê, mas não sou tão conhecida nem reconhecida como sou internacionalmente.

Pode nos dizer o que você costuma ouvir no dia a dia?

Gosto muito do silêncio. Estou sempre em processo de criação. Tento me manter atualizada com os novos lançamentos dos gêneros que me interessam musicalmente, mas, na verdade, quando eu estou trabalhando num disco, compondo, gravando, produzindo, no meio de uma agenda muito ocupada de turnês, prefiro o silêncio nas horas vagas. Dele nascem minhas ideias, minhas composições e arranjos.

Como foi a mistura entre Bossa Nova e Jazz na sua música?

Moro há 33 anos em Nova York, para onde me mudei muito jovem. A principio me estabeleci como pianista de Jazz e compositora. Fui aceita de braços abertos no mundo jazzístico, trabalhando com os maiores nomes do gênero na atualidade. A música brasileira foi incorporada. Todos os meus discos trazem improvisação: uns com ritmos brasileiros; outros mais jazzísticos e straight ahead; outros realçam o lado da composição; outros realçam mais o lado vocal. A Bossa Nova é um ótimo veículo para o Jazz e para a improvisação.

Como foi o processo criativo do novo álbum?

Primeiro vieram as ideias, meus arranjos e as minhas composições, assim como a escolha das músicas e da direção que o disco ia tomar.  Nesses arranjos e nessas composições se fez interessante a inclusão de músicos parceiros para que eu alcançasse o som que estava imaginando. É como um quadro. Você faz primeiro o esboço e depois escolhe as cores que ficam interessantes naquelas composições.

O disco tem seis músicas próprias, e canções de Ary Barroso, Roberto Menescal e Tom Jobim. Diferentes gerações…

Sim. O álbum Made in Brazil começa com um toque da história de nossa música, o samba exaltação, passando pela Bossa Nova e chegando às minhas composições, que refletem a música de hoje.

Sete das 12 faixas do seu novo álbum tiveram arranjo de Rob Mathes, gravadas no lendário Abbey Road Studios. Como foi esse processo, já que o disco foi finalizado em São Paulo?

No Brasil fizemos as composições e os arranjos, gravamos todas as bases e acrescentamos os vocais do Ed Motta. Nos Estados Unidos foram gravadas as participações do grupo Take 6, da Amanda Brecker e do Mark Kibble. Então fomos para Londres gravar as cordas. Os arranjos de cordas foram escritos por Rob Mathes. É o terceiro disco que ele participa como arranjador orquestral e que gravamos as cordas em Londres, no histórico Abbey Road Studios.

No começo de maio, o Barbican recebe Eliane Elias e Ed Motta. Como foi essa parceria e qual é a expectativa para o show?

Estaremos cada um fazendo o seu próprio show, e estamos estudando uma participação conjunta. O Ed cantou na minha música chamada “Vida”, então pensamos em cantar essa música juntos.

 

ELIANE ELIAS

Quando: 4 de maio

Onde: Barbican Hall

Ingresso: £20–35

Info: www.barbican.org.uk

 

BRASIL OBSERVER – EDIÇÃO 26