Blog: 1984 Voltar a lista de posts

Novas vozes do Brasil

brasilobserver - Aug 21 2015
ricardo
Jaloo (Foto: Divulgação)

(Read in English)

Muita gente boa, criativa e interessante tem ganhado espaço nos clubes alternativos do Rio, São Paulo e Porto Alegre, mas tive que fazer uma seleção de apenas quatro apostas

 

Por Ricardo Somera

A nova safra de músicos e bandas inglesas, os fãs acompanham diariamente pelas rádios mais legais do mundo, como BBC 1, Absolute Radio e KEXP, ou pelas listas de player, como Spotify e Rdio. Mas, para saber das novidades do Brasil, está difícil contar com as rádios brasileiras. Enquanto escutamos nas rádios gringas Jack Garratt, George the Poet e Formation, por aqui escutamos apenas sertanejo universitário, funk paulista e, às vezes, Gun’s and Roses (sim, G&R em 2015!). Por isso decidi escrever sobre novos nomes da cena independente do Brasil. Muita gente boa, criativa e interessante tem ganhado espaço nos clubes alternativos do Rio, São Paulo e Porto Alegre, mas tive que fazer uma seleção de apenas quatro apostas: Jaloo, Rico Dalasam, Russo Passapusso e Johnny Hooker.

 

Da região metropolitana de Belém vem uma das novidades mais legais. Jaime Melo, conhecido como Jaloo, recentemente lançou seu EP Insight, produzido pelo Miranda – jurado do programa Ídolos do SBT – com quatro músicas, incluindo um cover de “Oblivion”, da cantora Grimes. A imprensa local gosta de associar Jaloo ao tecnobrega – o ritmo mais popular no Pará –, mas para mim o rapaz está mais para M83 da Amazônia. Minha música preferida é “Odoiá (In Your Eyes)”, uma surpresa agradável para libertar a mente.

 

Representante do queer rap no Brasil, o talentoso Rico Dalasam está desafiando os estereótipos do rap com suas músicas que protestam em favor de uma causa pouco explorada no rap nacional: o universo gay. Com hits como “Aceite-C” e “Riquíssima”, Rico tem colocado todo mundo para dançar abrindo shows de nomes consagrados, como Racionais MC’s e Criolo, além de participar de programas como Esquenta e Encontro, com Fátima Bernardes. Talento e carão não faltam a esse novo nome do rap brazuca. Outro não dá para ser.

 

Frontman do BaianaSystem, o músico baiano Roosevelt (Russo em baianês) Ribeiro de Carvalho, mais conhecido como Russo Passapusso, é uma figura sonora mista entre Nação Zumbi, Otto e Criolo. Até o dia do seu show (esgotado!) numa terça-feira chuvosa no SESC Pompéia, eu não fazia ideia de quem era o cabra. Por sorte consegui um ingresso com um amigo, pois foi uma das apresentações mais ricas e surpreendentes do ano. A força de músicos como Curumim e Saulo Duarte acrescenta muito à sonoridade e à vibe das músicas. “Flor de Plástico”, cantada (duas vezes) em coro pelos fãs, e “Anjo” foram os grandes pontos altos da apresentação. Virei fã!

 

Já o multi artista John Donovan (a.k.a. Johnny Hooker) é o David Bowie dos trópicos (mais para calango do que para camaleão, o que é ótimo). Ator de novelas pop e filmes cult, cantor de bar e baladas, Johnny nos surpreende por sua diversidade de referências, que vão de Madonna a Caetano Veloso. Desde que conheci o artista vejo uma mistura de Ney Matogrosso, Felipe Catto e Cássia Eller. Essa percepção é reforçada no álbum romântico-brega-cult Eu Vou Fazer Uma Macumba pra Te Amarrar Maldito!, que ficou em primeiro lugar no Deezer e Itunes Brasil na época do lançamento e já é um novo clássico da MPB. De Recife para São Paulo, da fossa ao desbunde.

BRASIL OBSERVER – EDIÇÃO 30