A ideia de que “não tem pra todo mundo” está ultrapassada. A multidão pode criar coisas incríveis
Por Ricardo Somera
Está cada vez mais evidente que o modelo de vida competitivo que nos foi ensinado desde a infância não atende às nossas necessidades. Cursos e mais cursos nos foram – e ainda são – transmitidos com um aviso elementar: “Seja o melhor, pois não tem pra todo mundo”.
Com essa voz interna nos desafiando a cada dia, uma característica nos foi tirada sem nos darmos conta: a colaboração. Mas, com ajuda da internet – e também sem ela –, há alguns anos o mundo está tentando resgatar esse nosso lado mais comunitário. Aos poucos, estamos provando que essa não é apenas uma filosofia do passado, mas do presente e também do futuro. A internet nos conectou e o compartilhamento dos nossos conhecimentos chegou a um ponto que nunca poderíamos ter imaginado – para o bem o para o mal, é verdade. Fato é que dai surge o que hoje está na boca de indivíduos, associações, escolas e empresas: a economia colaborativa.
A multidão – o ‘crowd’ – pode compartilhar seus conhecimentos para construir soluções sociais e empresariais com os softwares livres; financiar projetos de grande impacto nas ferramentas de financiamento coletivo; e criar um dos mais ambiciosos sonhos, aquele de construir a maior enciclopédia gratuita do mundo, a Wikipedia, viável apenas com a colaboração de milhares de pessoas.
Em uma das palestras do evento Fronteiras do Pensamento – que tem como tema anual “Como Viver Juntos” – realizado em São Paulo e Porto Alegre, o fundador da Wikipedia, Jimmy Wales, contou para uma plateia de curiosos alguns fatos interessantes sobre o sexto maior site do mundo hoje. Criada em 2001, a Wikipedia conta com mais de 32 milhões de artigos em mais de 280 idiomas (876 mil em português e quase três mil em guarani!). São mais de 70 mil colaboradores, em sua maioria homens (87%) com média de idade de 26 anos. Tudo isso só é possível graças a colaboração. E não é só a Wikipedia que mostra esse fenômeno. Waze, AirBnb, Quirky, entre outras centenas de projetos, só são possíveis graças a colaboração da rede gerando não apenas valor econômico, mas também social.
Wales entrou na minha lista de “grandes heróis” contemporâneos com suas ideias progressistas, e também pelo seu espírito colaborativo e inspirador, além de ser um ferrenho defensor da neutralidade da rede. Mesmo não sendo bilionário como muitos de seus amigos que “fundaram” a internet, ele se diz realizado com seus filhos e sua mulher, Kate Garvey (ex-secretária de Tony Blair). E cutuca seus colegas dizendo que conhece muitos bilionários, e que a maioria deles está entediada, enquanto ele se diz muito satisfeito.
Vemos hoje vários projetos colaborativos que prometem revolucionar o modo pensar globalmente, agindo localmente e pensando no futuro de modo a resgatar os sentimentos com o próximo. Todos os dias, somos bombardeados de informações negativas e provas de que a linha entre o progresso e o retrocesso é bastante fina, mas há que se ver também o que funciona, o que de novo está sendo feito! Tenho esperança em um mundo mais colaborativo. E você? Colabora, vai!
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