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A que ponto chegamos, a que ponto chegaremos? Qualquer que seja, a convulsão social será inevitável

Wagner de Alcântara Aragão - mar 18 2016
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Estão a me perguntar, eu tenho me perguntado – todos têm se perguntado: como vamos sair dessa confusão?

Vejo se confirmarem as palavras do jurista e filósofo Sérgio Sérvulo da Cunha: o Brasil sempre foi um país surreal, e agora o é, mais do que nunca. Está difícil imaginar o que pode acontecer daqui a uma hora; impossível enxergar finais para essa história.

Mas como, pra viver, a gente precisa ter um mínimo de perspectiva do que vem pela frente – pra saber que decisão tomar, que precauções adotar, que projetos tirar da gaveta e que outros engavetar -; enfim, pra ir dormir hoje a gente carece de imaginar como será amanhã, então inevitável fazer, se não previsões, ao menos conjecturas.

 

Tal qual em 1964, a Fiesp patrocina o golpe. Qualquer semelhança não é mera coincidência

Tal qual em 1964, a Fiesp patrocina o golpe. Qualquer semelhança não é mera coincidência

 

Até esta quinta-feira, 17 de março, costumava acreditar, e a responder aos que me perguntavam, que achava muito difícil que o golpe há muito engendrado chegasse às vias de fato. Confio na solidez, ainda que relativa e fresca, da nossa democracia, argumentava.

Depois do que ocorreu nesta quinta, da aberração do grampo na quarta e do sequestro de Lula dia 4, juntando tudo isso, começo a considerar que a solidez da nossa democracia parece não ser suficiente para barrar a volta ao poder, da direita, pelo tapetão.

Parece iminente, também, uma convulsão social com sequelas mais graves. Falo de confronto mesmo; briga, pancadaria, feridos – mortes, até.

Dá uma baita tristeza, um nó doído na garganta só de aventar esse risco.

Se tivesse que chutar, hoje, uma conjectura, seria assim:

  • i) mesmo sem nenhum motivo constitucional, o impeachment de Dilma tende a passar pelo Congresso. As reações de ambos os lados – dos defensores da legalidade e dos golpistas (conscientes ou não) são inimagináveis;
  • ii) o afastamento de Dilma não será o bastante para satisfazer a sanha da elite. A elite quer ver Lula preso, o PT expurgado;
  • iii) o vice, Michel Temer, assumiria sem legitimidade alguma – nem dos movimentos populares, do campo progressita; nem da parte da classe média que, insuflada pelo denuncismo enviesado da mídia e da Operação Lava Jato, foi às ruas contra a política de forma geral;
  • iv) a convocação de eleições seria uma tentativa de apaziguamento, de legitimar o golpe. Para tanto, necessitaria da prisão de Lula, pra que este fique fora do páreo. E, mesmo sem nenhuma prova, seria preso. Mais reações, portanto.

Evidente que não espero, tampouco torço, por isso. O hoje, porém, não permite vislumbrar um horizonte mais otimista.

É perfeitamente factível que, Lula ministro, e sua nata capacidade de articulação e negociação, conseguisse reestabelecer um mínimo de governabilidade. Para tanto, precisaríamos contar com o equilíbrio dos poderes, com o respeito à ordem democrática.

 

A imparcialidade, a lucidez do ~juiz federal~ que suspendeu a posse de Lula ministro

A imparcialidade, a lucidez do ~juiz federal~ que suspendeu a posse de Lula ministro

 

Todavia, com esse comportamento anti-republicano de setores do Judiciário e do Ministério Público, respaldado por uma mídia irresponsável, está difícil crer em respeito às regras do jogo.

Estaremos a vivenciar o encerramento da novela Lava Jato.

A operação completa dois anos justamente neste mês. Foi criada para pegar Lula. Mas não pega. E ainda é pêga com a boca no botija.

Não pega porque o que consegue são, no máximo, suposições e ilações contra o ex-presidente, minuciosamente narradas pela mídia como fatos. Mas não o são, faltam as provas. Na falta dessas, parte-se para o tudo o nada: grampos, linchamento moral… Ingredientes para a desinformação, o ódio – o terreno fértil para se forjarem verdades.

 

No Tuca (PUC-SP), lideranças de diversas vertentes rechaçaram o golpe em orquestração

No Tuca (PUC-SP), lideranças de diversas vertentes rechaçaram o golpe em orquestração

 

Por fim, tenho uma ressalva e um pedido a você que está lendo.

A ressalva: não se trata de canonizar ou satanizar Lula, PT, ou Dilma. Trata-se de respeito à vontade popular. Tenha você votado ou não na Dilma, lembremos que 51% dos eleitores que escolheram um dos dois candidatos optaram por ela. Retirar alguém do cargo sem que nada contra essa pessoa tenha sido provado, é golpe. Se o governo está ruim, a pressão por um novo rumo é por outras vias. Se não resolver, 2018 é a próxima eleição.

O pedido: com base na ressalva, não caia no jogo do denuncismo, dos justiceiros de plantão e conveniência, da vingança e do ódio. Você não precisa, nem deve se quiser, apoiar Lula, PT, Dilma, ou quem quer que seja. Mas, só por não gostar, não pode ser conivente com o tapetão, o golpismo. Não só por Lula, PT, Dilma. Por todos nós – por você, inclusive.

Aqueles tópicos ali em cima são só conjecturas. A gente ainda tem força pra evitar que se transformem em realidade.

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Por @waasantista, postado de Curitiba

| Imagem: Laerte, via Vi o Mundo

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