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O que há de comum entre a greve de professores do Paraná, o Carnaval e a Superliga de vôlei

Wagner de Alcântara Aragão - mar 10 2015
Aguia_da_Portela

Três grandes eventos nos últimos 30 dias expuseram um problema que precisa de ser resolvido com urgência no Brasil.

(Mas que dificilmente o será em breve.)

Falo do oligopólio dos meios de comunicação.

O prejuízo desse oligopólio à democracia, à sociedade brasileira está refletido em acontecimentos mil.

Por ora, tomo estes três grandes eventos como exemplo: o Carnaval, a greve dos professores do Paraná e a Superliga de vôlei.

O Carnaval, mais exatamente os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo, estes são reféns do monopólio da Rede Globo.

A emissora tem exclusividade nas transmissões.

Isso está fazendo mal a uma das maiores manifestações culturais do planeta.

Os desfiles do grupo especial de São Paulo (na sexta e no sábado que antecedem o Carnaval) não começam antes das 23 horas.

Porque, para serem transmitidos ao vivo, têm de esperar terminar o Big Brother Brasil.

Com isso, limitou-se em no máximo 65 minutos o tempo de apresentação de cada escola. Se durasse mais, os desfiles só terminariam oito da manhã.

As escolas não conseguem crescer em componentes e em alegorias, como as do Rio, porque estourariam o tempo de desfile.

No Rio, o evento está mais consolidado, e os organizadores não se submetem aos horários da Globo.

Os desfiles do grupo especial ocorrem no domingo e na segunda-feira.

Os de segunda-feira, a Globo, porém, só começa a transmitir depois da segunda escola, porque não abre mão de exibir a novela, o Big Brother…

A Globo tem todo o direito de preferir passar o BBB a transmitir a apresentação da primeira escola de samba. Só não tem o direito de impedir que o telespectador tenha outra opção de canal para assistir ao que ela não quer mostrar. Mas é isso que ela, achando-se dona do negócio, faz.

Sobre a Superliga de vôlei…

Trata-se do campeonato brasileiro da modalidade, tanto no masculino como no feminino. É um dos torneios de clubes de melhor nível técnico em todo o mundo.

A Globo tem o monopólio na transmissão, na tevê por assinatura (Sportv) e na aberta.

Define os horários das partidas, e são os mais absurdos possíveis.

Um exemplo: uma partida de quartas-de-final da Superliga masculina, entre Minas e Campinas, foi marcada para 18h30 desta segunda-feira, dia 9, em Belo Horizonte.

O ginásio estava vazio, não porque o jogo fosse desinteressante – ao contrário, é o duelo mais equilibrado dessa fase e conta com um dos clubes mais tradicionais na modalidade, o mineiro.

Estava vazio o ginásio porque o horário era inviável. Ora, numa metrópole como Belo Horizonte, às 18h30 o sujeito está em deslocamento de casa para o trabalho, ou do trabalho para o estudo, ou do estudo para casa, ou de casa para o estudo… Está ocupado com tudo o que se possa imaginar, menos disponível para o lazer. Por que não mais tarde? Porque 21 horas tem o programa do Galvão Bueno.

Já no canal aberto, a Globo decidiu exibir só a decisão do campeonato.

No caso da greve dos professores da rede estadual de ensino do Paraná…

O fim da paralisação foi decidido numa assembleia da categoria na manhã desta segunda, 9.

Na hora do almoço, a Rede Massa, afiliada do SBT no Estado, abriu espaço em um de seus programas – o Tribuna da Massa – para o governador Beto Richa (PSDB) falar sobre o assunto.

A emissora é da família Massa, do Ratinho e seu filho, o Ratinho Júnior, secretário do Desenvolvimento Urbano do governo Beto Richa.

O Blog Caixa Zero, do Rogério Gallindo, definiu bem: foi um “presentão” da TV de Ratinho Jr. para Beto Richa.

Nada contra o governador ter espaço para se explicar. Ao contrário, tem todo o direito, e nós como cidadãos temos o direito de saber o posicionamento de nossos governantes.

O problema é que canais de televisão aberta como a Rede Massa e como a Rede Globo são concessões públicas.

Não podem, conforme estabelece a Constituição da República, ser objeto de monopólio e oligopólio.

E devem abrir espaço para a manifestação de todos os lados. O mesmo tempo e destaque que Beto Richa teve para desclassificar o movimento dos professores deveria ser dado a representantes desse movimento para expor seu ponto de vista.

Por essas e outras é que na internet se coletam assinaturas para um projeto de lei de iniciativa popular regulamentando artigos da Constituição que tratam da Comunicação – criando, assim, um marco legal para área.

Permitindo, assim, maior liberdade de expressão.

Ampliando, assim, o espaço para que a sociedade tenha mais vez e voz.

Democratizando, assim, a mídia.

O abaixo-assinado está em www.paraexpressaraliberdade.org.br.

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Texto e foto por Wagner de Alcântara Aragão, jornalista e professor | Twitter: @waasantista

| Postado de Curitiba