Virou clichê, depois de 1989, associar novatos na política brasileira, que fazem sucesso no processo eleitoral, ao fenômeno Fernando Collor de Melo.
É resultado do trauma que a ascensão de Collor deixou no imaginário coletivo nacional.
Mas ligar o Aécio Neves de agora ao Collor de 1989 não é recorrer ao clichê para desqualificar o candidato tucano.
São cada vez mais evidentes as semelhanças entre o Aécio de 2014 e o Collor de 1989.
Aécio, como Collor 25 anos atrás, adotou o slogan da “mudança”.
Aécio, como Collor 25 anos atrás, lidera, e faz questão de frisar, o voto “anti-PT”.
Aécio, como Collor 25 anos atrás, é relativamente jovem para o posto que disputa.
Aécio, como Collor 25 anos atrás, tenta passar a imagem de equilíbrio entre o vigor da juventude e a responsabilidade do “homem família”. Ora aparece em trajes e trejeitos contemporâneos; ora apela para a tradicional pose com mulher e filhos.
Aécio é filho de político conservador aliado da ditadura civil-militar dos anos 60 e 70. Collor também.
Aécio fez carreira em Minas Gerais, mas é figura presente nas rodas cariocas. Collor, político de Alagoas, também batia ponto no Rio.
Abastado, Aécio sempre levou uma vida social mansa – vida de playboy, como se diz na gíria. Collor, também.
Aécio forja uma retórica contundente para tentar convencer. Bem próximo da agressividade do discurso do Collor de 25 anos atrás. Falta pouco pra dizer que tem “aquilo roxo”, como o disse Collor.
Aécio carece de consistência filosófica, ideológica; de conhecimento acadêmico e/ou empírico. Igual a Collor em 1989.
Disfarça a vaziez reproduzindo enfaticamente clichês da mídia, memes de facebook, a crítica rasa. Collor também era craque em repetir frases feitas como se estivesse a fazer as mais contundentes revelações e denúncias.
Collor reunia ao redor os mais brutucus e reaças da sociedade brasileira, a começar pela grande mídia. Olhe o palanque e as redes pró-Aécio e verá o mesmo. Confira o noticiário dos veículos tradicionais e notará um apoio uníssono ao tucano.
Collor era a “mudança”. Confiscou a poupança do povo, escancarou a economia para a onda neoliberal, submeteu o Brasil aos ditames do Consenso de Washington.
Aécio se diz a “mudança”, admitindo a adoção de medidas “impopulares”, reaproximando o país da submissão aos Estados Unidos, reconduzindo para a economia a ortodoxia de Armínio Fraga.
Para seguir em frente, é preciso olhar no retrovisor sim.
E o que se vê nesse retrovisor não é nada alentador.
Postado de Curitiba | De autoria do próprio blogueiro | Acompanhe também pelo twitter: @waasantista