Por Nathália Braga
Não faz muito tempo, alguns amigos postaram no Facebook fotos de despedidas no aeroporto. Eram fotos de pessoas que eles conheciam e que estavam deixando o Brasil para irem passar um tempo no exterior. Estados Unidos, Irlanda, Austrália…Ver aquelas fotos, de alguma forma, mexeu comigo.
Me vi ali, naquele saguão de aeroporto, quatro anos atrás. E parei para pensar no quanto aquele passo foi importante. E no quanto eu nem imaginava que seria. A verdade é que ninguém sabe o que te espera do outro ladro do portão de embarque. Cruzar aquela linha é dar um passo para novas experiências, coisas que a gente vive e que podem nos mudar para sempre.
E não, você não precisa casar com um gringo para dizer que sua vida mudou. Mas inevitavelmente alguma coisa vai mudar. Na hora você não sabe, mas depois de quatro anos (comemorados hoje) já dá para fazer um bom balanço…
Acredito que a definição de “casa” vai ser a primeira mudança. Lembro que dias antes de viajar postei uma foto da rua onde eu iria morar e disse que estava empolgada para conhecer minha nova casa em Londres. Levou um tempo para eu perceber que Londres era tudo, menos minha casa.
Sim, aquele era meu endereço, mas fora daquelas paredes da casa 53 na Scawen Road, tudo era diferente. A cultura, a comida, as pessoas, o clima. Londres não era minha casa, mas era onde eu iria viver por um tempo e por isso queria aproveitar o máximo possível de tudo. A ficha uma hora caiu. E foi o empurrão que eu precisei para experimentar mais as coisas, e não estou falando só de chá com leite ou feijão no café da manhã.
Ter a consciência de que ali não é sua casa, é o primeiro passo para levar a vida de expatriado com mais leveza – tudo bem comparar o seu jeito de agir com o dos locais, só não vale se cobrar por não ser como eles ou eles como você. Você não vai se enturmar logo de primeira, vai boiar em muitas das piadas internas e ao falar da sua infância vai ter que achar assuntos de conversa que não envolvam Chaves – porque eles simplesmente nunca ouviram falar do programa.
A segunda fase é quando você vai aprendendo a conviver cada vez mais com as diferenças. Aprende a julgar menos (os outros e a si próprio). Aprende a, vejam só, defender o Brasil, e se livra de uma vez por todas daquele famoso complexo de vira-lata de que na gringa tudo é melhor. Não. As pessoas não são superiores porque nasceram em um país de primeiro mundo. No fim das contas, todo mundo tem seu lado bom e ruim. E estar longe faz você enxergar seu país como nunca antes. Dizem que na saudade tudo é mais bonito, e é verdade. Mas mesmo tirando a saudade você tem motivos para se orgulhar de onde você veio, o que é muito importante, afinal, faz parte de quem você é.
Depois de um tempo, se você ficar fora por tempo suficiente, você não só tem consciência de que não está em sua casa, mas aprende a lidar com as diferenças e cria vínculos com tudo que um dia pareceu ser de outro mundo. A comida, a cidade, a rotina…e, claro, as pessoas. É nessa hora que você percebe que, agora sim, aquele lugar também é sua casa e, mais do que isso, seu lar. A ficha cai de novo. Ao sair do Brasil você não mudou de casa, só ganhou mais uma.