Nós, artistas, desejamos ter os méritos e falhas do nosso trabalho julgados por especialistas. Mas quem são esses especialistas? Qual é a bagagem deles? Quão profundamente eles conhecem a forma de arte que estão julgando? E como fazer o melhor uso da crítica que recebemos, seja ela construtiva ou não?
Acabo de regressar do Festival Fringe de Edimburgo, onde foram realizados mais de 3.000 eventos, todos esperando bons públicos e comentários positivos.
Uma boa crítica pode significar um bom público, mas muitos shows não são avaliados, e poucos entram nas listas de indicações das maiores publicações, de modo que cresceu consideravelmente o número de críticos e publicações. Na verdade, este ano houve uma grande discussão em torno de uma nova publicação on-line que estava planejando cobrar por suas críticas, mas os protestos foram tantos que o projeto não foi adiante. Mas, ainda assim, há centenas de críticos no festival, muitos no início de suas carreiras e poucos com anos de experiência.
Quando você vai ver um show, há uma série de elementos que podem influenciar a opinião do público, que carrega expectativas positivas ou negativas que definitivamente influenciarão sua opinião. Também é importante ressaltar que não importa se o show foi criado durante um período de ensaio de duas ou quatro semanas, ou se já é um produto estabelecido, pois o processo não conta, só o produto final é julgado.
Dale Carnegie, autor de ‘Como fazer amigos e influenciar pessoas’, diz: “qualquer tolo pode criticar, condenar e reclamar, mas é preciso caráter e autocontrole para ser compreensivo e tolerante”.
Todos nós esperamos receber o maior número de estrelas possível, mas em que se baseiam essas estrelas? Às vezes, leio uma crítica que parece oferecer quatro ou até mesmo cinco estrelas, mas que no final valem três; ou leio algo que me parece três estrelas e é dado cinco. Qual é o jogo aqui? Seu palpite é tão bom quanto o meu.
Ao longo dos anos, aprendi a receber críticas com desassombro. Valorizo muito a opinião do público, mas é impossível agradar a todos. Alguns críticos não têm autoridade sobre o assunto que estão escrevendo e outros escrevem de maneira tão abrupta que os artistas se sentem pessoalmente atacados. Já li muitas críticas que são pura mesquinharia, algumas até se limitando ao bullying.
Entendo que a crítica e a rejeição são parte da vida, mas não podemos negar que isso pode ser perturbador e até mesmo deixar um sabor amargo duradouro. Podemos nos sentir miseráveis, irritados, feridos e assim por diante. Podemos até retaliar, mas eu tomaria cuidado isso. De qualquer forma, é preciso bloquear o pensamento negativo, pois ele só prejudica a autoestima e desperdiça valiosa energia.
Se pudesse, eu evitaria ler qualquer crítica sobre meus próprios trabalhos, mas é impossível. Então eu leio as avaliações, e tudo bem se forem positivas; as avaliações negativas, porém, são realmente difíceis de aceitar. O que fazer?
Ao longo dos anos aprendi que para crescer tenho que me certificar de que entendo perfeitamente a pessoa que me criticou, e se eu tiver a oportunidade faço perguntas, descubro mais sobre seus conhecimentos e tento entender o que contribuiu para que formasse determinada opinião.
Se eu não concordar com a crítica, sigo em frente. Por outro lado, se eu concordar com a avaliação negativa, tento absorver a crítica, assumindo a responsabilidade pelo que deu errado. Muitas pessoas não são admitem seus erros, colocando a culpa nos outros, o que impede uma evolução. Uma vez que você assume o erro, você pode melhorar.
É preciso tentar encontrar o positivo na crítica. Certamente, algumas críticas podem ser grosseiras. Mas, na maioria delas, é possível encontrar uma pepita de ouro, uma avaliação honesta e uma sugestão de melhoria. Às vezes é apenas alguém tendo um dia ruim, mas muitas vezes há pelo menos um grão de verdade na crítica.
Atitude é a chave, e se você não se empenhar para ser mais positivo sobre as críticas que você recebe isso sempre irá derrubá-lo. Olhe a crítica como uma oportunidade para crescer e melhorar; ou mesmo para superar a pessoa que faz a crítica, provar que você pode fazer melhor no seu próximo projeto. Foi-me dito uma vez que, se sua produção for ruim, realize uma produção melhor assim que possível, pois você é tão bom quanto o seu último show.
É mais fácil dizer do que agir, é claro, mas conhecer suas forças e estar pronto para ouvir e aceitar suas fraquezas é a coisa mais poderosa que você pode fazer.
- Franko Figueiredo é diretor artístico da Companhia de Teatro StoneCrabs e associado artístico do New Theatre Royal Portsmouth