Projeto ‘Por Mais Turbantes Nas Ruas’ gera reflexões sobre autoestima, valorização e identidade da cultura negra
Por Rita Romão e Rouseanny Bomfim – de Aracajú, Sergipe
Quando vamos ao centro comprar tecidos, quando entramos no ônibus em direção às escolas ou quando chegamos para dar oficinas, é sempre uma mistura de expressões: “você é da Bahia? É da África? Posso topar no seu cabelo? O que é isso na sua cabeça? Vocês vieram fazer o que aqui?”. Nós nos olhamos, rimos, respondemos às perguntas pacientemente e até deixamos topar no cabelo se for preciso. Fazemos tudo com muita alegria, com muito amor. Nesses dois anos até agora valeu a pena cada tempo que dispusemos em nosso projeto, ou como chamamos: nosso filho #PMTNR.
O #PorMaisTurbantesNasRuas surgiu de forma muito natural. Éramos duas amigas que gostavam de falar de cabelo, que estavam assumindo suas madeixas e tinham aprendido a fazer turbante em tutoriais no YouTube. Usávamos o acessório despretensiosamente até que um dia tudo mudou: apareceu uma professora que pensou em fazer algo diferente em sua sala de aula e nos convidou para falar de cabelo e de autoestima para as meninas de sua turma. Até ali tudo bem. Mas o que uma aprendiz de publicitária e uma quase formada professora de sociologia poderiam oferecer de palavras inspiradoras para aquelas meninas da oitava série? Foi essa a pergunta que ecoou em nossas mentes e deixou nossos corações nervosos e ansiosos para a experiência que estava por vir.
Aceitamos o desafio. Era meados de 2014. Juntamos nossos humildes tecidos, separamos vídeos e fotos e nos preparamos para aquela tarde que marcou o início de nossa história. Auditório lotado, meninas empolgadas e a gente com vontade gigante de fazer aquilo tudo de novo. E foi o que aconteceu, de novo, de novo, de novo e de novo, até a presente data.
Entendemos o #PorMaisTurbantesNasRuas como um projeto educacional que promove reflexões a respeito de autoestima, valorização e identidade da cultura negra, tendo como ponte de diálogo a oficina de turbantes que apenas apresenta-se como “parte prática” de todo o debate inicial.
Falar no ambiente escolar sobre a pluralidade e identidade negra do povo brasileiro é essencial, uma vez que este espaço deve levar o aluno a compreender a diversidade cultural e assim criar pontes para seu crescimento pessoal. Acreditamos que a escola é um espaço de sociabilidade, troca de valores, formação de identidades e inserção social, e um dos grandes desafios existentes neste ambiente é a reprodução da desigualdade pautada na discriminação racial que é uma questão cultural invisibilizada em nossa sociedade pela assimilação de uma cultura hegemônica e eurocêntrica.
Por isso o #PorMaisTurbantesNasRuas pretende trazer uma pequena contribuição para intervenção dessa realidade fazendo com que seja instigado um novo e descolonizado olhar sobre a população e cultura negra, aproximando a afro-brasilidade dos estudantes das escolas públicas e privadas de Sergipe. Assim, é pensando na construção da identidade negra que a escola deve promover ações que busquem questionar e romper com ideias que corroboram pra atitudes racistas.
As visitas nas escolas são sempre marcantes e únicas, seja em unidades de ensino infantil ou de ensino médio, cada uma é uma experiência ímpar para nós e fazemos questão de guardá-las no coração. Nossas oficinas não ficam só nas escolas, muitas vezes recebemos convites para eventos, encontros e atividades em comunidades das quais, dentro de nossa disponibilidade de tempo, sempre procuramos participar.
O #PorMaisTurbantesNasRuas já tem muita história para contar, mas ainda queremos fazer muito mais. Das lembranças que com certeza levaremos para vida temos um dia com três oficinas e palestras corridas que aconteceram no mês da Consciência Negra. Nosso trabalho no projeto é voluntário, estávamos sem trabalhar e com grana quase zero para transporte, inclusive uma de nós não tinha o dinheiro para voltar para casa, mas mesmo assim fomos e demos a primeira oficina de manhã, comemos na rua e seguimos para a segunda oficina. Demos a palestra, conseguimos o dinheiro da passagem com a venda do turbante e a coordenação da escola ainda ofereceu um lanchinho gostoso e uma carona até a terceira oficina. Chegamos a nossas casas quase às 22h. Dia corrido, cansativo e apesar disso recompensador.
Sempre dizemos e gostamos de repetir: fazemos o #PorMaisTurbantesNasRuas com muito amor. Um amor que é da família e dos amigos que sempre nos ajudam quando precisamos: Jonatas Damaceno (Jones/Jon), Rayanni Bomfim (Ray), Wanessa Barreto, Edilma Oliveira, Rosineide Santos, Marilia Teles e Raabe Noa; e também de nossos parceiros: Amanda Cardoso, Thaty Menezes, Rayanne Rocha e Izabella Portella.
Fazemos e somos o #PorMaisTurbantesNasRuas porque um bocado de gente acredita na gente e ama nosso projeto tanto quanto nos ama, e junto com esse povo todo temos quase seis mil pessoas que nos apoiam e nos acompanham nas redes sociais.
Caso queira conhecer mais a gente e tenha interesse em saber mais sobre amarrações e tecidos fale conosco na nossa fanpage (facebook.com/pormaisturbantesnasruas). Também somos uma lojinha de turbantes, vamos gostar bastante de conversar com você.
- Rita Santos Romão e Rouseanny Luiza dos Santos Bomfim são sócias, amigas e loucas por turbantes. Rita é graduanda em Publicidade e Propaganda na Universidade Federal de Sergipe. Rouseanny é formada em Sociologia pela mesma universidade.