A vida que passa em Londres

Brasil Observer - dez 06 2016
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Fotos: Tina Wells

Londres é como uma festa barulhenta e cheia de gente, mas com uma porta para um jardim tranquilo. Tina Wells escreve sobre sua relação com a capital britânica

 

Lembro-me de pensar “nossa, que cidade feia”, quando o motorista fazia o trajeto do aeroporto de Heathrow par o meu hotel em Swiss Cottage, no noroeste de Londres. As casas todas iguais, tempo cinza, tudo muito estranho para os olhos de uma carioca acostumada com sol, praia e a beleza natural do Rio de Janeiro.

Dia 15 de julho de 1992. Duas semanas antes eu havia recebido um telefonema confirmando meu novo contrato com o escritório de jornalismo da TV Globo na capital britânica. Avisei a produtora onde trabalhava como freelancer; fechei a conta no banco; despedi dos amigos e familiares; coloquei tudo que eu consegui em três malas e vim sabendo que era pra ficar.

Muitas águas rolaram nesses 24 anos. Não trabalho mais na TV Globo nem como editora de imagens. Tornei-me cidadã britânica e me casei com um londrino, nessa ordem, por isso sempre brinco com meu marido que ele pode ter certeza que casei por amor e não pelo passaporte.

Virei blogueira – ou pelo menos estou tentando – e faço passeios guiados pela cidade. Londres deixou de ser um patinho feio e hoje não para de me encantar.

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Minha felicidade é ver o brilho nos olhos dos turistas quando se deparam pela primeira vez com os monumentos saídos dos cartões postais. Big Ben, London Eye, Tower Bridge, Palácio de Buckingham… E com eles aprender a ser turista também – como vim para trabalhar com telejornalismo, as imagens que me interessavam antes eram bem diferentes.

Hoje não me canso de passear pela beira do rio Tâmisa, passando pelas lindas pontes, cada uma com sua história. A música que eu mais gosto sobre Londres é “Waterloo Sunset”, do Kinks – a ponte de Waterloo é um dos lugares mais legais para apreciar o por do sol.

Viajar nos cheiros e sabores do Borough Market, um dos maiores mercados de comida de Londres e um paraíso para quem gosta de cozinhar (e comer) como eu.

Sentar no pátio do The Anchor, um dos pubs mais antigos da cidade, e concluir que o escritor inglês Samuel Johnson tinha toda razão: “se você está cansado de Londres, está cansado da vida. Porque há em Londres tudo que a vida tem para oferecer”.

Admirar a cúpula da Catedral de St. Paul no horizonte da Millennium Bridge.

Tomar um drink no Riverfront enquanto espera a sessão do seu filme clássico preferido começar no BFI (British Film Institute).

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Entrar na National Gallery, um lugar pra deixar de boca aberta até mesmo quem não entende nada de arte, como eu, nem que seja só para usar o wi-fi, e sentar em frente a uma obra de Rapahel, Caravagio, Degas, Van Ghogh. São mais de 2.000 quadros pintados desde o século 13 até o começo do século 20.

Ver Londres do alto do Primrose Hill, o meu parque favorito. Ou da London Eye, a roda gigante mais famosa do mundo. Do Sky Garden, um jardim instalado no topo do prédio apelidado de Walkie Talkie, na City. Do Emirates Cable car, o teleférico que atravessa o rio Tâmisa no lado leste da cidade. Ou do décimo andar do prédio novo da Tate Modern, uma das maiores galerias de arte contemporânea do mundo. E quase tudo de graça!

Descobrir, a cada dia, lugares diferentes e curiosidades da cidade que eu gosto de chamar de casa.

Londres é como uma festa barulhenta e cheia de gente, mas com uma porta para um jardim tranquilo que podemos entrar para relaxar e apreciar a natureza de uma metrópole com 47% de área verde.

Adoro explorar os mercados de Camden Town e depois fugir da “muvuca” pelo Regent’s Canal, caminhado até Little Venice ou dando uma paradinha no Regent’s Park para ver as rosas no início do verão.

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As estações do ano, todas tem seu charme, mas o outono é a minha preferida, com suas cores e o arzinho gelado anunciando que está na hora de tirar os casacos do armário.

A escuridão do inverno deprime muita gente, mas é só passear pelas ruas do West End e pegar a energia das luzes e vitrines de Natal, cada uma mais linda do que a outra. E depois ir se divertir no Winter Wonderland, no Hyde Park. Patinar no gelo, andar na montanha russa ou simplesmente festejar na Bavarian Village com muita cerveja, comida e músicas típicas.

Ver os fogos do Ano Novo e ouvir o Big Ben soar as badaladas da meia-noite, nem que seja pela TV – nunca fui ver ao vivo porque sempre trabalhava, mas, quem sabe, agora que virei turista, não me animo?

E que felicidade ver os primeiros narcisos da primavera e aquele verdinho novo nas árvores que dão um ar de campo para uma das cidades mais cosmopolitas do mundo.

Mais um ciclo, mais um ano. A vida passa e meu amor por Londres não para de crescer.

 

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