Rio 2016: Um ano para os Jogos

brasilobserver - ago 18 2015
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Em agosto do ano que vem, a Cidade Maravilhosa receberá a primeira Olimpíada na América do Sul. Marcus Vinicius Freire, diretor executivo de esportes do COB, e Mark England, chefe de missão do Team GB, respondem cinco questões ao Brasil Observer 

 

 

Qual é a meta de medalhas para a Rio 2016 e o que está sendo feito neste ciclo olímpico para que a mesma seja alcançada?

Marcus Vinícius | A meta é colocar o país, pela primeira vez, no Top 10 do quadro geral de medalhas. Para chegar a essa meta, o COB estudou o cenário das últimas edições de Jogos Olímpicos e montou, em 2009, um mapa estratégico para nortear as nossas ações. Nele identificamos a necessidade de conquistar medalhas em cerca de 13 modalidades em 2016, por isso focamos o investimento em 18 ou 19 para termos um alcance maior. O COB monitora os principais atletas do Brasil durante todo este ciclo olímpico. A partir desse monitoramento, o COB define a estratégia de suporte capaz de aumentar as chances de que aquele atleta ou equipe alcance a sua melhor performance durante os Jogos Olímpicos. Essa estratégia envolve investimentos, de forma a atender todos os detalhes da preparação, em diversas áreas, como Ciências do Esporte; intercâmbio de treinamentos e competições; capacitação de treinadores; apoio às equipes multidisciplinares; compras de equipamentos; gerenciamento do CT Time Brasil; entre outros.

Mark England | Tivemos excelentes resultados nos últimos dois ciclos olímpicos, com o quarto lugar no quadro geral em Pequim e o terceiro em Londres. Sempre defendi que não estabelecêssemos meta de medalhas muito antes dos Jogos; faremos isso mais perto do evento. Estamos fazendo nosso trabalho com todas nossas habilidades. Se fizermos toda a preparação, todo o planejamento, toda a familiarização com a cidade-sede, então o quadro de medalhas vai falar por si só. Temos duas áreas prioritárias na preparação. A primeira é a educação dos atletas, que devem estar preparados para o ambiente que vão encontrar no Rio, as instalações olímpicas, a infraestrutura de competição. E a segunda diz respeito obviamente aos eventos que antecedem aos Jogos. Temos feito nossos atletas se sentirem bastante familiarizados com o Rio, mas nosso foco de preparação também tem sido a conclusão de nosso centro de treinamento em Belo Horizonte, com duas instalações fantásticas.

 

Quais têm sido os principais desafios na preparação?

Marcus Vinícius | O principal desafio é o tempo. Temos recursos e pessoal capacitado para mudar o patamar do esporte olímpico brasileiro. Porém o tempo é curto até os Jogos. Estamos trabalhando com muita intensidade para conseguir alcançar os nossos objetivos.

Mark England | O maior desafio tem sido a procura pelo melhor centro de treinamento. Temos uma ótima interação com líderes do Comitê Organizador e do Comitê Olímpico Brasileiro, então não tem sido tão difícil, tem sido uma incrível jornada, muito prazerosa.

 

Quais modalidades estão mais preparadas?

Marcus Vinícius | O COB não indica esta ou aquela modalidade, assim como não falamos em nome de atletas. É desmerecer o trabalho dos não citados e colocar pressão desnecessária nos indicados. Hoje temos a certeza de que o atleta brasileiro conta com a melhor preparação possível e isso está se refletindo nos resultados que estamos obtendo ao longo do ciclo. Toronto 2015 e os Campeonatos Mundiais de 2013, 2014 e 2015 estão confirmando uma série de atletas e modalidades em condições de brigar pelo pódio no Rio. Isso não é garantia, mas indica que estamos no caminho certo.

Mark England | Sempre tivemos ótimos resultados em campeonatos mundiais e em Jogos Olímpicos em modalidades como ciclismo, atletismo, remo, canoagem, hipismo… São esportes que geralmente têm apenas uma medalha na pontuação, mas o que descobrimos nos últimos quatro ou cinco anos é que esses esportes contribuem cada vez mais para o quadro geral, por isso também estamos olhando para o boxe, o judô… Temos uma ampla gama de esportes que podem contribuir para a posição da Grã-Bretanha no quadro de medalhas.

 

Quais vantagens e desvantagens de se competir no Rio?

Marcus Vinícius | É a realização de um sonho para muitos atletas. Temos o fator motivador por termos a torcida em casa. O que, ao mesmo tempo, pode colocar uma pressão a mais em cima de alguns atletas. É um grande desafio, mas o importante é termos o Time Brasil bem preparado técnica e mentalmente e fornecermos o melhor preparo possível para que nossos atletas foquem somente na competição. Nosso suporte não está voltado apenas àqueles que vão disputar medalhas, e sim para que os 400 atletas tenham os melhores resultados de suas carreiras nos Jogos Olímpicos.

Mark England | É a primeira vez que a América do Sul está recendo os Jogos Olímpicos. É um continente que normalmente não estamos familiarizados, é uma cidade em que normalmente nossos atletas não treinam ou competem. O Rio trouxe desafios diferentes para nós, como o fuso horário completamente diferente, e também alguns desafios operacionais. A vantagem é a rede de apoio para a nossa preparação em Belo Horizonte, a rede de apoio que temos com o Comitê Olímpico Brasileiro. Somos muito amigos, especialmente com Marcus Vinicius, que, quando a equipe do Brasil treinou em Londres, nos ajudou bastante. Assim, apesar das diferenças culturais, temos um objetivo comum de colaboração e apoio, uma grande vantagem.

 

Qual legado a Rio 2016 deve deixar para o esporte no Brasil?

Marcus Vinícius | O esporte olímpico brasileiro nunca mais será o mesmo. Em termos de estrutura, vamos ganhar instalações modernas que serão utilizadas na preparação dos futuros atletas do Brasil. Em termos de capacitação de profissionais que trabalham com esporte, técnicos, preparadores, marketing esportivo, estamos ganhando um conhecimento muito grande, que não se perderá. Mas, no meu entender, o maior legado será a inspiração que milhões de jovens brasileiros terão ao vivenciar o ambiente olímpico. Acreditamos realmente que, uma vez tocados pelo espírito olímpico, os jovens se encantem pelos valores de excelência, amizade e respeito e utilizem o esporte para a melhoria de suas vidas.

Mark England | É uma das maiores oportunidades para se construir uma infraestrutura para o esporte no país, para realmente apoiar as federações nacionais, para tornar o Brasil uma potência em esportes olímpicos. É também uma oportunidade para construir um sistema de desempenho sustentável no Brasil. Além disso, é uma grande oportunidade de ter um legado de instalações de treinamento de alta qualidade e locais de competição em todo o país. E, claro, inspirar os jovens pelo esporte a se tornarem ativos na comunidade e para realmente se tornarem as estrelas do futuro, de uma nação saudável.

BRASIL OBSERVER – EDIÇÃO 30